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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ANOREXIA NERVOSA E RISCO DE VIDA

Rita Rodrigues*, Cláudia Cabido*, Daniela Couto**, Helena Afonso*, Maria do Carmo Pinto1, Maria Antónia Silva2, Margarida Marques3

* Médica Interna de Pedopsiquiatria, Área de Pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospital Lisboa Central
** Médica Interna de Pedopsiquiatria, Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental
1 Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria Médica, Chefe da Unidade de Adolescentes do Hospital Dona Estefânia
2 Assistente Hospitalar Graduada de Pedopsiquiatria, Responsável pela Unidade de Pedopsiquiatria de Ligação do Hospital de Dona Estefânia
3 Assistente Hospitalar Graduada de Pedopsiquiatria, Chefe da Unidade de Internamento de Pedopsiquiatria do Hospital de Dona Estefânia

Resumo
A Anorexia Nervosa (AN) é uma perturbação psiquiátrica séria e complexa, com patogénese biopsicossocial e que, com frequência, tem um curso crónico e incapacitante. É a terceira doença crónica mais frequente em raparigas adolescentes, com uma incidência crescente e com uma taxa de mortalidade de 2% nesta faixa etária.
De acordo com os critérios DSM-5, a Anorexia Nervosa caracteriza-se por uma restrição do consumo de energia relativamente às necessidades, conduzindo a um peso significativamente baixo, por um medo intenso de ganhar peso e por alterações na própria apreciação do peso ou da forma corporal. As recomendações clínicas baseadas na evidência, privilegiam o tratamento da AN em regime de ambulatório, sendo as terapias familiares os tratamentos de escolha, bem como intervenções psicoterapêuticas individuais. A admissão hospitalar está reservada às situações de risco de complicações médicas e/ou psiquiátricas e implicam uma cuidadosa abordagem multidisciplinar e integrada, tendo em conta os aspectos nutricionais, médicos e psicológicos do paciente.
Apresentamos, neste trabalho, o caso da L., uma adolescente de 16 anos, filha única, que vive com os pais e é excelente aluna. Tem história prévia de vários seguimentos médicos e de dois internamentos psiquiátricos. A L. tem uma AN restritiva grave, com risco iminente de morte e alexitímia marcada, tendo sido internada na Unidade de Pedopsiquiatria do Hospital de Dona Estefânia, onde permaneceu durante cerca de três meses. Do projecto terapêutico fizeram parte um plano individualizado de ganho ponderal por etapas, a separação da família numa fase inicial, intervenções psicoterapêuticas individuais e em grupo e sessões familiares semanais, registando-se uma evolução lenta.
A propósito do caso clínico e, dos desafios que colocou à equipa multidisciplinar, foi realizada uma revisão da literatura acerca da AN grave, a qual motivou uma reflexão acerca das dificuldades sentidas no tratamento destes doentes. Abordamos ainda aspectos relacionados com o significado dos sintomas, resistência ao tratamento, relação terapêutica e contratransferência.

Palavras-chave: Anorexia Nervosa, Internamento Pedopsiquiatria, Resistência ao tratamento, Relação Terapêutica, Contratransferência.