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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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MALFORMAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO CORTICAL – O PAPEL DA TUBULINA

Andreia Gomes Pereira1, Sandra Jacinto1, Rita Lopes da Silva1, Ana Moreira1, Eulália Calado1, Carla Ribeiro da Conceição2

  1. Serviço de Neurologia Pediátrica
  2. Serviço de Neurorradiologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE, Lisboa

Sessão Clínica da Área de Pediatria Médica do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, 15/10/2013

Introdução: O desenvolvimento do córtex cerebral é um processo complexo, no qual intervêm diversos mecanismos. A ocorrência de anomalias em um ou mais destes mecanismos é geneticamente determinada na maioria dos casos e condiciona um amplo espectro de malformações cerebrais.
A tubulina é um heterodímero que, sob a forma de microtúbulos, é responsável pela orientação e manutenção axonal e pela migração e diferenciação neuronais. Actualmente estão identificadas diversas mutações nos genes que codificam as isoformasα e β da tubulina. Apesar de muito raras, as doenças da tubulina são entidades com amplo espectro fenotípico, incluindo várias formas de malformação cortical, defeitos nas fibras comissurais, dismorfismo dos gânglios da base e degenerescência axonal motora e sensitiva.

Casos Clínicos:
1) Feminino, 30 meses; atraso de desenvolvimento e estrabismo detectados no 1º ano de vida. Estado de mal epiléptico aos 22 meses; epilepsia focal refractária. Tetraparésiadisquinética.
2) Masculino, 5 anos; convulsões neonatais. Atraso de desenvolvimento e autismo. Posturas distónicas nos membros superiores
3) Masculino, 3 anos. Assimetria ventricular diagnosticada no periodo pré-natal; atraso de desenvolvimento e hemiparesia esquerda.
4) Masculino, 12 anos; anemia das células falciformes diagnosticada aos 9 meses de idade, sem história de eventos cerebrovasculares. Défice cognitivo. Hemiparésia esquerda de predomínio braquial.
As RMN cranianas dos 4 doentes revelaram fusão dos núcleos caudado e lenticular (uni ou bilateral), dificultando a identificação do braço anterior da cápsula interna, bem como corpo caloso dismórfico ou hipoplásico. Nos pacientes 1 e 2 identificaram-se também heteroptopiassubependimárias e polimicrogiria focal. Os pacientes 1 e 4 têm malformações cerebelosas e do tronco cerebral, com expressão variável.

Conclusão: Apesar do largo espectro fenotípico associado às doenças da tubulina, alguns achados imagiológicos permitem orientar a investigação diagnóstica. Os quatro doentes descritos têm apresentações clínicas muito distintas, apesar dos achados neuroradiológicos comuns, sugestivos de mutação nos genes da tubulina. As mutações no gene TUBB3 associam-se tipicamente à fusão dos núcleos caudado e putamen, à dismorfia do corpo caloso e às malformações do cerebelo. Estão também descritas anomalias da giração (polimicrogiria ou agiria-paquigiria) e malformações do cerebelo associadas às mutações deste gene.

Palavras chave: tubulina, malformação cortical