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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INFECÇÕES PARAMENÍNGEAS

Tiago Milheiro Silva1, Mário Matos2, Lurdes Ventura3, Maria João Brito1

1 Unidade de Infecciologia;
2 Unidade de Neurocirurgia;
3 Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Hospital Dona Estefânia – Centro Hospitalar de Lisboa Central EPE.

Introdução As infecções parameníngeas (abcessos cerebrais e empiemas subdurais) são raras em pediatria. Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, mantêm elevado risco de mortalidade e morbilidade. Em Portugal a literatura referente a estas doenças é escassa.

Objectivos Caracterizar os casos de infecções parameningeas num hospital terciário pediátrico.

Material e Métodos Estudo descritivo, de 2002 a 2013 (12 anos) de doentes (<18 anos) internados com o diagnóstico de abcesso cerebral ou empiema subdural. Analisaram-se variáveis demográficas, factores de risco, manifestações clínicas, diagnóstico, complicações e tratamento.

Resultados Identificaram-se 15 crianças com empiema subdural (13) e abcessos cerebrais (2). Onze (73%) eram do sexo masculino com mediana de idades de 21 meses (mín 7dias; máx 15anos). 2/15 doentes tinham factores de risco: tetralogia de Fallot com shunt de Blallock Taussig (1) e mielomeningocelo com derivação ventrículo peritoneal (1). O tempo do ínico da sintomatologia até ao diagnóstico foi em média de 10,6 dias (1 – 37dias). A clínica inicial cursou com febre (80%), cefaleias/irritabilidade (47%), convulsões/sinais focais (27%) e alterações do estado de consciência (20%). O diagnóstico inicial foi meningite em 7 crianças. 9/15 (60%) crianças foram submetidas a intervenção neurocirúrgica. Em 10/15 (67%) identificou-se agente patogénico: Streptococcus pneumoniae (4), Escherichia coli (2), Haemophilus influenzae serotipo b (1), Salmonella enteritidis (1), Streptococcus intermedius (1) e Neisseria meningitidis (1). Em 3 casos o agente foi isolado em hemocultura, 5 casos em cultura de líquido cefalorraquidiano e 2 casos em cultura de material abcedado. A antibioticoterapia inicial mais instituída foi ceftriaxone (60%) associada à vancomicina (53%) alterada em 87% dos doentes de acordo com o TSA ou com evolução clínica desfavoravel. Ocorreram complicações em 13/15 (87%) doentes: hipertensão intracraniana (5), défices focais motores persistentes (3), epilepsia (3), trombose de seios venosos (2), hidrocefalia (2), coagulação intravascular disseminada (1), secreção inapropriada de hormona antidiurética (1). Todos necessitaram de cuidados intensivos. O tempo total médio de internamento foi de 57 dias (mín 14; máx 101). Não se registaram óbitos.

Conclusão A baixa prevalência desta patologia pode implicar também uma reduzida experiência no tratamento. A partilha de informação inter-hospitalar e a implementação de protocolos terapêuticos multidisciplinares poderão melhorar o prognóstico destes doentes e reduzir a taxa de complicações.

Palavras-chave: infecção parameníngea,  abcesso cerebral,  empiema subdural