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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INFECÇÕES VIRAIS. CMV: QUEM E COMO TRATAR

Maria Teresa Neto

Faculdade de Ciências Médicas. UNL
Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais. Hospital de Dona Estefânia CHLC, EPE

-VI Reunião do Departamento de Pediatria:  Infecciologia Neonatal. Hospital Fernando Fonseca, EPE, 2013, 23/09/2013,  Amadora

A infecção por CMV é a infecção congénita mais frequente. A sua incidência é muito variável e difere de país para país. O público em geral tem pouco conhecimento da doença e existe pouca divulgação das medidas de prevenção primária. Também por parte da classe médica existe um sentimento de inevitabilidade como se não houvesse medidas a tomar. Por outro lado o défice de suspeita clinica de infecção congénita é grande, o impacto em saúde pública é subestimado pelas autoriodades e pelos prestadores de cuidados e não existem estudos que permitam graus de recomendação A no que respeita a quem, quando e com que tratar. Em teoria os medicamentos são pouco eficazes e têm efeitos adversos potencialmente muito graves. Contudo na prática os resultados de vários estudos parecem mostrar que a terapêutica é eficaz e os efeitos adversos imediatos mínimos. O ganciclovir, um fármaco estruturalmente semelhante ao acyclovir, foi o primeiro antivírico disponível para tratar infecções causadas por CMV. O fabricante descreve os efeitos adversos do fármaco a  longo prazo enfatizando a acção carcinogénica, mutagénica e efeitos sobre a fertilidade  e, ainda, os efeitos imediatos sobre o SNC, sistema hematopoiético, rim, fígado, etc. O fármaco não está aprovado para tratamento de infecções congénitas e, por isso, só deve ser utilizado em situações com risco de vida ou graves lesões do SNC. Nestas situações, o tratamento deve ser iniciado no primeiro mês de vida e com consentimento informado dos pais sabendo contudo que, após a paragem do tratamento, a virémia voltará a instalar-se. Os níveis séricos devem ser monitorizados. Persistência de virémia em pleno tratamento pode indicar resistência do vírus ao fármaco. Alguns autores defendem que, após paragem da terapêutica endovenosa, se continue com o medicamento por via oral o que possibilita fazer tratamentos de longa duração com grande comodidade.  Aparentemetne este tratamento prolongado parece associar-se a menor taxa de surdez, contudo a terapêutica oral parece induzir resistência viral ao fármaco. Nestes caso terá que ser usado o fármaco de segunda linha, o foscarnet.

Outra situação diz respeito ao tratamento ou não de infecção adquirida após o nascimento. É o caso de RN grande pré-termo que adquirem a infecção muitas vezes ataravés do leite da mãe. Tambám nestes casos, só está indicado fazer tratamento se houver risco de vida por lesão grave de órgão. No entanto, nestas situações, não está provada a eficácia terapêutica.

No que respeita ao uso de gamaglobulina específica hiperimune na prevenção da infecção congénita parece ter algum efeito na prevenção da infecção mas são necessários mais estudos para uma clara decisão. Por último tem sido encarada a possibilidade de adminsitrar antívirico à mãe para tratar o feto mas os estudos realizados não são inconclusivos.

Por estes motivos e na ausência de vacina, deve ser efectuado rastreio em consulta pré-concepcional e ser feito grande investimento na prevenção primária,  o que pode evitar até três quartos das seroconversões na gravidez. As medidas a tomar por uma grávida seronegativa são simples:   Não dar beijos na boca e face de lactentes, não partilhar comida, bebidas, talheres ou pratos, lavar as mãos cuidadosamente após mudar fraldas, limpar urina, saliva, lágrimas e secreções nasais.

Em resumo o ganciclovir é o fármaco mais adequado para tratar infecções por CMV.

Este fármaco não está indicado para tratar infecções congénitas. Só devem ser submetidos a tratamento RN com infecção congénita com afecção do SNC ou em risco de vida. Podem ser tratados com ganciclovir RN com infecção adquirida após o nascimento se houver risco de vida. O uso da forma oral induz resistência pelo que o valganciclovir só deve ser usado em doentes englobados em estudos.