imagem top

2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

CHULC LOGOlogo HDElogo anuario

GASTROENTERITE AGUDA EM CRIANÇAS INTERNADAS NA ÁREA DE LISBOA

Carlos Gil Escobar1, Tiago Silva2, Beatriz Costa2, Marisa Oliveira2, Paula Correia2, Gonçalo Cordeiro Ferreira2, Inês Costa3, Cláudia Júlio4, João Rodrigues5, Jorge Machado4, Adelaide Marques4, Maria João Simões5, Mónica Oleastro4, Maria João Brito2

1. Departamento de Pediatria, Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, Amadora, Portugal
2. Área de Pediatria Médica, Hospital D. Estefânia, Lisboa, Portugal
3. Unidade Laboratorial Integrada Biologia Molecular, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSARJ), Lisboa, Portugal
4. Laboratório Nacional de Referência de Infeções Gastrintestinais, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSARJ), Lisboa, Portugal
5. Unidade Laboratorial Integrada Microbiologia, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSARJ), Lisboa, Portugal

Acta Pediatr Port 2013;44(4):155-62


RESUMO

Introdução: A Gastroenterite Aguda (GEA) é uma patologia com importante morbilidade sendo a segunda causa de internamento na idade pediátrica.

Objetivo: Caracterizar a GEA, em crianças internadas em dois hospitais da área de Lisboa com diferentes características demográficas.

Métodos: Estudo prospetivo de Maio 2011 a Junho 2012. Pesquisados potenciais agentes etiológicos por técnicas convencionais e de biologia molecular em amostras de fezes e analisados dados epidemiológicos e clínicos.

Resultados: Total de 140 amostras de crianças com GEA com identificação do agente em 83,6%: 64,3% vírus, 27,9% parasitas e 21,4% bactérias. Os agentes mais frequentes
foram rotavírus (26,4%), norovírus II (13,6%), enterovírus (12,1%), Microsporidia (11,4%), Escherichia coli (9,3%), Campylobacter jejuni (7,9%), Giardia sp. (5,7%), Cryptosporidium sp. (5%) e Salmonella sp. (4,3%). Coinfecções (2 ou mais agentes) em 40 doentes (28,6%). Mediana de idade de 1,4 anos (min-5 dias; max-17 anos) sendo a etiologia viral mais frequente abaixo dos 5 anos (p<0.01), com o rotavírus identificado em crianças mais jovens (média=1,7 anos). Dois picos sazonais: o rotavírus entre Janeiro e Março e norovírus entre Agosto e Outubro. Apenas 10 (7,1%) doentes estavam vacinados para rotavírus, mas nenhum com o esquema completo. A presença de sangue nas fezes (p=0.02) e a febre (p=0.039) foram mais frequentes na infeção bacteriana, os vómitos (p<0.01) e os sintomas respiratórios (p=0.046) na infeção por rotavírus. Registaram-se complicações clínicas em 50 doentes (35,7%): desidratação (47), invaginação íleo-cecal (1), adenite mesentérica (1) e apendicite fleimonosa (1).

Conclusão: Os vírus são os agentes mais frequentes de GEA sobretudo na criança pequena (idade <5 anos), sendo o rotavírus e norovírus os principais agentes. O número de coinfecções foi significativo mas não se associou a maior morbilidade. A ausência de identificação de agente em alguns casos pode refletir a necessidade de outros meios diagnósticos ou a existência de agentes ainda desconhecidos.

Palavras-chave: gastroenterite, pediatria, etiologia, rotavírus, norovírus