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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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SECÇÃO DOS VASOS FEMORAIS E PROTOCOLOS TRANSFUSIONAIS – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Joana Pais de Faria1; Beatriz Sousa Nunes1; Pedro Silva1; Sofia Carneiro1; João Falcão Estrada1

1 - Centro Hospitalar de Lisboa Central | Hospital Dona Estefânia

- XXIV Reunião Anual Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos – 2022 – Poster

Introdução: Crianças com hemorragia life- -threatening têm elevada mortalidade, sendo uma importante causa de morte evitável. A ativação de protocolos de transfusão maciça é rara em pediatria, contudo a identificação atempada dos casos permite aumentar a sobrevivência e diminuir os efeitos adversos. Não existe consenso relativo aos critérios de ativação ou rácio ideal de eritrócitos:plasma:plaquetas.
Relato do caso: Criança de 10 anos submetida a artroplastia por doença de Perthes. Intercorrência cirúrgica com laceração da artéria e veia femorais comuns esquerdas, com necessidade de reconstrução vascular com enxerto venoso. Perda de sangue total estimada de 2000mL. Ressuscitação de fluídos com 2950 mL de cristalóide e 1000 mL de colóide. Suporte transfusional com cinco unidades de concentrado eritrocitário (UCE), duas unidades de plasma fresco congelado (PFC), um concentrado plaquetário (CP) e fibrinogénio. Administrado ácido tranexâmico. Oligoanúria transitória e instabilidade hemodinâmica com necessidade de suporte com noradrenalina (máximo 0,65 mcg/kg/min). Nas primeiras 24 horas de internamento na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos (UCIP) necessitou de quatro UCE e um CP. Pelo risco trombótico do enxerto venoso realizou heparina não fracionada até D3, seguida de heparina de baixo peso molecular em dose terapêutica. Ventilação invasiva e suporte vasopressor até D5. Por hipocalcemia realizou reposição com gluconato de cálcio até D7. Função renal preservada, sem sobrecarga de volume, edema pulmonar ou discrasia hemorrágica. Pulsos pediosos palpáveis e sinal de Doppler presente. Transferida em D8.
Discussão/Conclusão: Descrevemos um caso de hemorragia maciça, com perda de sangue superior a 65% da volémia. A reposição foi feita com cristalóide, colóide e hemoderivados num rácio CE:PFC:CP de 5:2:1 no bloco e de 4:0:1 na UCIP. A evidência suporta a administração precoce de plasma e a administração de antifibrinolítico como adjuvante na prevenção da hiperfibrinólise associada à hemorragia. Contrariamente, parece demonstrar benefício na mortalidade precoce da utilização de um menor rácio de CE:PFC:CP, tal como não recomenda a utilização de colóides pelo impacto negativo na hemostase. Verificou-se hipocalcemia, a complicação mais frequente, corrigida com suplementação. Este caso foi particularmente desafiante pela necessidade concomitante de anticoagulação pelo risco trombótico associado ao enxerto venoso. É necessária investigação adicional para o desenvolvimento de protocolos de transfusão maciça em pediatria.

Palavras Chave: Palavras-chave: pediatria; choque hipovolémico; hemorragia maciça; transfusão maciça