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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA NA PEDIATRIA: QUANDO O DESPERTAR É PROTELADO

Custódia Teixeira1; Miguel Roxo1; Adelaide Coelho2

1 - Interna/o de Formação Específica em Anestesiologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;
2 - Assistente Hospitalar do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Lisboa;

- Publicação em forma de póster no congresso nacional: O Norte da Anestesia 2022

Introdução: O atraso na recuperação anestésica apresenta uma incidência mínima e deve-se frequentemente a patologia médica desconhecida ou erro médico. As principais causas são divididas em fatores associados ao 1)Doente, 2)Farmacologia, 3)Cirurgia, 4)Metabólicos. O diagnóstico é de suspeição e depende de uma suspeição clínica alta para abordagem terapêutica célere. Este evento poderá levar a alteração do estado de consciência, incompatível com reflexos protetores da via aérea e ventilação eficaz que poderá conduzir a complicações graves, tais como: hipoventilação com hipóxia, hipercapnia e acidose respiratória e ainda fenómenos de obstrução da via aérea superior, com risco de laringoespasmo e broncoespasmo. Estas complicações associam-se a um maior risco de morbimortalidade.
Caso Clínico: Apresentamos um caso clínico de atraso na recuperação anestésica, numa criança de 2 anos, com patologia pregressa conhecida de dismorfia facial e má progressão ponderal, proposta para amigdalectomia, sob anestesia geral balanceada. No final da cirurgia foi revertido o bloqueio neuromuscular com Sugammadex, sendo extubada após atingir, em ventilação espontânea, volume corrente de 5ml/kg com frequência respiratória adequada. Depois da extubação desenvolveu vários episódios de broncoespasmo e laringospasmo com melhoria parcial após bólus de propofol, cetamina, hidrocortisona, pressão positiva e broncodilatadores. Manteve ainda assim ventilação ineficaz com necessidade de suporte ventilatório intermitente, durante 30 minutos. Reverteu-se o opioide e repetiu Sugammadex, sem melhoria. A gasimetria arterial revelou pH de 6.8 e paCO2 imensurável, pelo que se decidiu a re-intubação e internamento em UCIP (Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos). Foi extubada ao 2º dia após várias tentativas sem sucesso. Foram ponderados os seguintes diagnósticos: doença genética metabólica, hipersensibilidade aos fármacos e doença neuromuscular. A referir irmã com internamento em UCIP por eventos semelhantes. Teve alta da UCIP ao 3ºdia e alta hospitalar ao 7ºdia. Foi agendada consulta de genética e neurologia.
Discussão: Apesar do atraso na emergência da anestesia geral ser um evento raro, é potencialmente fatal, o diagnóstico precoce é fundamental. A etiologia é importante, mas não indispensável na abordagem inicial que deverá seguir o algoritmo estabelecido para estas situações, e que visa tratar/excluir, de forma ordenada, as principais etiologias. O nosso caso relata um doente pediátrico, que após o tratamento inicial e excluídas as causas mais frequentes de atraso na emergência anestésica, se revelou um verdadeiro desafio diagnóstico.
Pontos de Aprendizagem: O atraso na recuperação anestésica obriga ao diagnóstico diferencial de causas possíveis, tendo por base o tratamento de suporte com o qual o anestesiologista deverá estar familiarizado, especialmente em idade pediátrica.

Palavras Chave: Anestesia Pediátrica, Broncospasmo, Extubação, Laringospasmo, Recuperação