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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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NEFROTOXICIDADE ASSOCIADA À ANFOTERICINA B LIPOSSÓMICA EM IDADE PEDIÁTRICA

Alexandra Andrade1, Sara Gonçalves Dias2, Ana Araújo Carvalho3, Rute Baeta Baptista4, Telma Francisco4, Margarida Abranches4

1 - Serviço de Pediatria, Hospital Central do Funchal, Funchal
2 - Serviço de Pediatria, Hospital Divino Espírito Santo, São Miguel
3 - Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Lisboa
4 - Unidade de Nefrologia Pediátrica, Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Lisboa

- Reunião da Sociedade Portuguesa de Nefrologia Pediátrica 2022, 13/10/2022, Coimbra, comunicação oral
- Prémio do melhor trabalho apresentado na Reunião da SPNP 2022

Introdução: A nefrotoxicidade é um efeito adverso comum e potencialmente grave associado à terapêutica com anfotericina B lipossómica. O objetivo do presente estudo foi analisar a incidência e identificar os fatores de risco para nefrotoxicidade associada ao tratamento com anfotericina B lipossómica.
Métodos: Análise transversal de todos os doentes pediátricos tratados com anfotericina B lipossómica num hospital pediátrico de nível III durante um período de cinco anos (entre 01/01/2017 e 31/12/2021). O outcome renal composto foi definido pela ocorrência de lesão renal aguda (aumento da creatinina sérica >1,5 vezes o valor basal) ou tubulopatia de novo (necessidade de reposição eletrolítica, glicosúria ou poliúria).
Resultados: Foram incluídas 76 crianças, idade mediana de 3,8 anos (intervalo interquartil (IIQ): 1,2-10,3) e 50% rapazes. A duração mediana de tratamento foi de 10 dias (IIQ: 6-16). Dezassete (22%) doentes faleceram e 6 (8%) tiveram de suspender o tratamento com anfotericina B lipossómica devido aos efeitos adversos. O outcome renal composto foi atingido em 68 (89%) dos casos, com lesão renal aguda (LRA) em 36 (47%) e tubulopatia em 58 (83%). Verificou-se aumento da creatinina em 54 (71%) doentes, cuja mediana foi 0,14 mg/dL (IIQ: 0,05-0,5; mín-máx 0,01-2,28) ou 44% (IIQ: 16-168) em relação ao valor basal. O valor de pico da creatinina foi atingido em D7 (IIQ 3-10; mín-máx 0-21) com normalização em D13 (P25-75: 6-16; mín-máx 0-32). Os doentes que desenvolveram lesão renal aguda apresentaram hipocaliemia menos grave do que os que não atingiram critérios de lesão renal aguda (3,0 [P25-75: 2,9-3,1] versus 2,7 [2,5-3,0]; valor-p = 0,04). A presença de comorbilidades foi um preditor significativo para a incidência de tubulopatia num modelo de regressão logística ajustado para a idade, sexo e gravidade da lesão renal aguda (OR 5,9; CI 95% 1,4-24;7, valor-p = 0,015).
Discussão: Os efeitos adversos relacionados com a anfotericina B lipossómica condicionaram a suspensão desta terapêutica em 8% da população estudada. Verificou-se a ocorrência de nefrotoxicidade em 89% dos nossos doentes, sendo que em 75% dos casos foi necessária reposição eletrolítica. Estes dados sublinham a necessidade de monitorização clínica e laboratorial durante o tratamento com anfotericina B lipossómica.

Palavras Chave: anfotericina B, lesão renal aguda, nefrotoxicidade, tubulopatia