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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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MIS-C VERSUS SÍNDROME DE CHOQUE TÓXICO – A VARIAÇÃO DO PREENCHIMENTO DA VEIA CAVA PODERÁ AJUDAR?

Rosário Stilwell1; Pedro Silva1; Ana Lemos1; Ines Salva1; Catarina Gouveia1; João Estrada1

1 - Centro Hospitalar de Lisboa Central | Hospital Dona Estefânia

- XXIV Reunião Anual Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos – 2022 – Poster com discussão

Introdução: A Síndrome Inflamatória Multissistémica em Crianças associada a COVID-19 (MIS-C) faz diagnóstico diferencial com Síndrome do Choque Tóxico (SCT). Têm abordagens terapêuticas distintas. Neste caso clínico destacamos a importância da ecografia para a abordagem diagnóstica e terapêutica.
Relato de caso: Rapaz de 6 anos, saudável, não vacinado para COVID-19 com contacto domiciliário com SARS-CoV-2. Iniciou febre 17 ­tosse, vómitos, exantema escarlatiniforme e enantema. Medicado empiricamente no terceiro dia de doença com penicilina intramuscular. SARS-CoV-2 detectado por PCR na nasofaringe. No quinto dia de doença progressão para choque refratário a volume com envolvimento mucocutâneo, gastrintestinal, hematológico, hepático e cardíaco. Iniciou ceftriaxone e clindamicina. Transferido para cuidados intensivos sob dopamina. Realizou ecocardiograma que revelou fração de encurtamento do ventriculo esquerdo 37%, aorta com VTI de 20, veia cava inferior com 10 mm de maior diâmetro, colapsável; cavidades pouco preenchidas, sem derrame pericárdico. Excluído foco pulmonar, cardíaco e abdominal. Considerando as hipóteses de MIS-C versus SCT iniciou imunoglobulina, pulso de metilprednisolona e ácido acetilsalicílico em dose antiagregante pela hipótese de MIS-C. Do estudo etiológico a destacar teste de deteção de antigénio rápido de Streptococcus grupo A negativo, TASO e Dnase B negativos; anticorpo anti proteína S SARS-CoV-2 positivo; serologias infeciosas e hemoculturas negativas. Melhoria paulatina, apirexia as 36 horas de tratamento. Manteve suporte aminérgico cinco dias. Ao décimo dia de doença iniciou descamação da face, tronco com escassa descamação periungueal. Aos 6 meses de seguimento sem alterações cardíacas ou novas intercorrências infeciosas. Discussão: O MIS-C associa-se frequentemente a alterações cardíacas com sobrecarga de volume quer por hipocontractilidade do miocárdio como por endotelite e extravasamento capilar. A hipocinésia e a dilatação da veia cava inferior são as alterações mais frequentemente descritas. Na SCT, pelo extravasamento capilar mais significativo, era expetável diminuição do preenchimento vascular, como a que foi observada no caso descrito. A evolução clínica do caso foi mais SCT. Na fase inicial a avaliação ecográfica da hemodinâmica acabou por ser o dado mais concordante com o diagnóstico final do doente. Conclusão: A ecografia é uma ferramenta de importância crescente para avaliação diagnóstica e adequação terapêutica do doente pediátrico em cuidados intensivos.