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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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NOVOS TEMPOS, VELHOS PROBLEMAS: TUBERCULOSE MILIAR (AINDA) NO LACTENTE

Maria Soto-Maior Costa1; Alexandra Vasconcelos1; Maria João Brito1

1 - Unidade de Infecciologia Pediátrica, Área da Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

Reunião Nacional XVI Jornadas Nacionais de Infecciologia Pediátrica da SIP-SPP. 30 de maio de 2019, Braga. Poster com discussão.

Introdução: A tuberculose constitui um desafio diagnóstico na idade pediátrica, sobretudo na ausência de história de contacto e nas formas extrapulmonares a que se associa a dificuldade de isolamento microbiológico. A suspeita clínica é fundamental, mas pode ser necessária uma investigação exaustiva.
Relato de caso: Lactente de 11 meses, com febre de origem desconhecida com três semanas de evolução e tosse e medicada com amoxicilina/ácido clavulânico, sem melhoria. Apresentava apenas uma palidez muco-cutânea na observação geral, tinha bom estado geral e não havia outras alterações. Em casa havia um gato sem vigilância no veterinário. Analiticamente registava-se Hb 8,3 x 10 g/L, VGM 77,1 fL, anisocitose ligeira, leucócitos 19960 x 106 /L, neutrófilos 10900 x 106 /L, VS 79 mm/h, PCR 36,8 mg/L. A radiografia do tórax mostrava broncograma aéreo e hipotransparência bilateral, mal definida com padrão granitado e micronodular e alargamento do mediastino. A TC torácica confirmou padrão nodular bilateral e permitiu observar adenomegálias de grandes dimensões, algumas com áreas sugestivas de necrose, não excluindo doença linfoproliferativa. O mielograma foi normal e a investigação para Bartonella negativa. A broncofibroscopia identificou estenose brônquica por compressão extrínseca com inflamação. Os exames directos e a PCR para micobactérias foram negativos. O IGRA foi positivo e no exame oftalmológico identificou-se tubérculo coroideu pelo que iniciou antibacilares, prednisolona e piridoxina. Posteriormente nos exames culturais isolou-se Mycobacterium tuberculosis. Não tinha vacina do BCG. A evolução foi favorável. Após três meses, o rastreio não foi ainda realizado a todos os contactos e o caso índex permanece por identificar.
Conclusões: Em Portugal, a tuberculose mantém-se uma doença grave a considerar na idade pediátrica. A ausência de vacinação universal com a BCG pode mascarar a verdadeira causa da situação que permanece um problema sério de saúde pública e em que os desafios para a diminuição da doença parecem longe de ser ultrapassados.

Palavras Chave: lactente, febre origem desconhecida, tuberculose miliar