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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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GLAUCOMA CONGÉNITO PRIMÁRIO NEONATAL: A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PRECOCE

Maria Elisa Luís¹, Diogo Hipólito Fernandes¹, Ricardo Figueiredo², Mariana Cardoso¹, Cristina Ferreira¹, Cristina Brito¹, Alcina Toscano¹

1. Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa;
2. Serviço de Oftalmologia, Hospital do Espírito Santo de Évora

- 60º Congresso de Oftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. 7-9/12/2017, Vilamoura (Comunicação Oral)

Introdução: O glaucoma congénito primário (GCP) neonatal é um subtipo raro de GCP cujo prognóstico funcional e visual tende a ser mau e que requer diagnóstico e intervenção cirúrgica precoce. O sucesso cirúrgico e clínico da trabeculotomia primária, neste tipo de GCP, reportado na literatura é variável.
Objectivo: Avaliar o sucesso cirúrgico e clínico da trabeculotomia primária em crianças com GCP de apresentação neonatal, e compará-lo quando a cirurgia é realizada no 1º mês de vida versus após 1 mês de vida.
Materiais e Métodos: Estudo retrospectivo das trabeculotomias realizadas como procedimento primário, entre Janeiro de 2006 e Junho de 2017 no Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC), em crianças com o diagnóstico de GCP neonatal. Definiram-se dois grupos comparativos: grupo 1 - olhos operados no 1º mês de vida; grupo 2 - olhos intervencionados após 1º mês de vida.
Resultados: O estudo incluiu um total de 31 olhos de 16 crianças, num período de seguimento médio de 51.3 ± 41.9 meses. Após trabeculotomia, a pressão intra-ocular (PIO) média foi de 11.8 ± 5.2 mmHg (grupo 1) e 13.9 ± 6.8 mmHg (grupo 2). Houve necessidade de terapêutica antiglaucomatosa adicional em 71.4% (grupo 1) e 58.9% (grupo2) - 1.2 ± 0.9 e 0.8 ± 0.8 classes farmacológicas respectivamente. A opacificação da córnea reduziu significativamente no grupo 1 e 2 (p 0.00 – 0.01). Não houve diferença significativa na relação escavação/disco em ambos os grupos. A complicação intra-operatória mais frequente foi o hifema, e pós-cirúrgica, as goniossinéquias. Registaram-se em média 0.4 ± 0.7 e 0.5 ± 0.9 reintervenções no grupo 1 e 2 respectivamente, sem diferença significativa entre ambos. O potencial visual é fraco em ambos os grupos; 7 olhos apresentam uma melhor acuidade visual corrigida (MAVC), na última consulta, ≤+0.5 em escala logmar no grupo 1, e apenas 3 no grupo 2; pelo que 50% dos olhos no grupo 1 e 23% no grupo 2 apresentam uma MAVC aceitável ou boa.
Conclusões: O GCP neonatal apresenta-se de forma agressiva e requer diagnóstico e intervenção cirúrgica precoce. Mesmo quando diagnosticado tardiamente, a cirurgia do ângulo pode ser tentada com resultados semelhantes à intervenção nas primeiras semanas de vida. O controlo tensional requer, numa percentagem significativa de casos, medicação antiglaucomatosa tópica. O prognóstico visual é tendencialmente mau, no entanto, a intervenção mais precoce está associada a melhores resultados relativamente à transparência corneana e à acuidade visual. 

Palavras-chave: glaucoma congénito primário; neonatal; trabeculotomia