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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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UROCULTURA NO SERVIÇO DE URGÊNCIA PEDIÁTRICO – CARACTERIZAÇÃO MICROBIOLÓGICA

Luís Carlos Costa1, Joana Martins1, Catarina Diamantino1, António Marques1

1 - Equipa Fixa da Urgência Pediátrica  - Hospital Dona Estefânia  - Centro Hospitalar de Lisboa Central EPE

Introdução: A infecção do trato urinário (ITU) é uma das infecções mais comuns em idade pediátrica, associando-se a elevada morbilidade e risco de complicações a longo prazo preveníveis. A sua prevalência varia de acordo com a idade e sexo, sendo os agentes mais frequentes a Escherichia coli(Ec), seguido de Klebsiella spp, Proteus spp, Enterococcus spp e Enterobacter spp. Perante a suspeita de ITU, inicia-se tratamento antibiótico empírico. A utilização inadequada de antibióticos contribui para a alteração da flora intestinal e contribui para o desenvolvimento de resistências bacterianas. Desta forma, conhecer os agentes etiológicos locais e respetivos padrões de resistência antibiótica é importante para orientação na escolha da antibioterapia empírica.
Objetivos: Caracterizar os isolamentos e respetivos antibiogramas das uroculturas (UC) de utentes que recorreram ao serviço de urgência pediátrico (SUP).
Métodos: Estudo retrospectivo descritivo (Outubro/2015-Outubro/2016) por consulta de registos do SUP de utentes entre os 0 e os 17 anos, com método de colheita de urina conhecida e UC positivas, com isolamento de agente único. Critérios de exclusão: colheita por saco colector; isolamentos múltiplos; antecedentes pessoais de malformação nefro-urológica, malformação ano-rectal, patologia neurológica com disfunção vesical, profilaxia antibiótica.
Resultados: Foram contabilizadas 572 UC positivas; sendo a amostra final constituída por 398 UC positivas. Mediana de idades é 7 anos (4 dias; 17 anos); 72.6% eram do sexo feminino. Agentes isolados: Ec 67.6%; Proteus mirabilis (Pm) 15.6%; Staphylococcus saprophyticus (Ss) 8.3% (correspondendo a 25.4% dos isolamentos na faixa etária dos 11-17 anos); Klebsiella pneumoniae (Kp) 3.0%. Perfil de resistência antibiótica: amoxicilina/ácido clavulânico (AMC) 11.6% (Ec 13.8%, Ss 6.1%, Pm 6.5%, Kp 0.0%); cefuroxima-acetil (CEF) 3.8% (Ec 4.1%, Ss 6.1%, Pm 0.0%, Kp 8.3%); trimetropim-sulfametoxazol (TMP) 19.1% (Ec 20.6%, Ss 3.0%, Pm 18.0%, Kp 8.3%); fosfomicina (FOS) 7.5% (Ec não testado - NT, Ss 90.9%, Pm NT, Kp NT); nitrofurantoína (NIT) 5.8% (Ec 0.4%, Ss 0.0%, Pm 33.9%, Kp 0.0%); Prevalência de Enterobacteriaceae ESBL 1.8% (2.6% das Ec).
Discussão: Os agentes mais frequentemente isolados na população de estudo são coincidentes com os descritos na literatura, dos quais se destaca a maior prevalência de Ec. O perfil de resistência antibiótica deste agente, sugere a utilização de AMC como agente terapêutico de primeira linha na cistite aguda não complicada. Nos adolescentes (11-17 anos), o Ss surge como o segundo agente etiológico mais frequente, com uma resistência à FOS de 90.9%, o que inviabiliza a sua utilização como tratamento de primeira linha nas ITU a Ss. Uma vez que a colonização e infecção a Ss estão associadas a factores hormonais e a atividade sexual activa, torna-se premente a colheita de uma história clínica mais detalhada, com caracterização da vida sexual, para instituição de antibioterapia mais adequada