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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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Hemi-epifisiodese no tratamento do hallux valgus juvenil

Patrícia Gomes, Afonso Caetano, Bruno Mota, Carlos Pedrosa, Ricardo Alves, Patrícia Rodrigues, Susana Ramos, Delfin Tavares

 Serviço de Ortopedia, Centro Hospitalar Lisboa Central – Hospital Dona Estefânia

- Congresso Nacional do pé e Tornozelo, Funchal, 27 a 28 de Maio (comunicação oral)

Introdução: O hallux valgus na criança é uma deformidade complexa do pé que se distingue do adulto pela persistência das cartilagens de crescimento, aumento da plasticidade dos tecidos moles e pelo facto de estar associada a elevadas taxas de recorrência. Afecta sobretudo o sexo feminino e tipicamente a deformidade angular é menos pronunciada que nos adultos, as grandes proeminências mediais são raras, a congruência articular com elevado distal metatarsal articular angle (DMAA) são mais frequentes que nos adultos e pode estar associado a outras deformidades como metatarsus adductus. Por outro lado, a laxidão ligamentar é mais comum em crianças com hallux valgus do que na população em geral.  A indicação cirúrgica na criança fica reservada para os casos de dor significativa com dificuldades no calçado e nas deformidades progressivas, devendo sempre que possível ser protelada até a maturidade óssea. Existem múltiplas técnicas descritas com os seus riscos e complicações inerentes, nomeadamente: osteotomias ao nível da 1ª falange, da 1ª cunha e do 1º metatarso (proximais e/ou distais), buniectomia, libertação de tecidos moles e hemiepifisiodese do metatarso. 
Material e Métodos: Análises dos resultados cirúrgicos dos doentes com hallux valgus juvenil tratados de 2009 a 2014 através da técnica de hemiepifisiodese lateral da base do 1º metatarso. Pretendeu-se avaliar os seguintes dados: sexo, idade, lateralidade, avaliação radiológica pré e pós operatória (intermetatarsal angle (IMA), hallux valgus angle (HVA), DMAA e comprimento do metatarso). Pretendeu-se também determinar os procedimentos adicionais realizados, a necessidade posterior de nova cirurgia e as complicações.
Resultados/discussão: Durante o período designado foram tratados 11 crianças, total de 21 pés. Todas do sexo feminino, com média de idades de 10 anos. Tempo médio de seguimento foi de 2 anos. Além da hemiepifisiodese lateral da base do 1º metatarso, em 2 pés realizou-se também a hemiepifisiodese da base da 1ª falange e noutros 2 a libertação de partes moles.  Em 17 casos (80%) verificou-se melhoria do ângulo IMA, numa média de 2.4 graus (1-6). Em 13 casos (62%) verificou-se uma melhoria do ângulo HVA, numa média de 3.46 graus (1-6). Em em nenhum caso se registaram complicações no pós-operatório imediato. 8 pés (38%) estão em lista de espera para correcção cirúrgica por manutenção das queixas e deformidade importante.
Conclusão: Não sendo uma entidade muito frequente, o hallux valgus juvenil levanta muitas controvérsias relativamente à abordagem mais correcta, tanto nas suas indicações, opções e timing cirúrgico. A hemiepifisiodese lateral da base do 1º metatarso é uma técnica descrita mas com poucos estudos relatados. Enquanto uns reportam elevadas taxas de falência, outros relatam resultados com tempos excessivamente curtos de seguimento. Contudo, existe um estudo, com tempo médio de seguimento de 4 anos, que demonstrou que esta técnica aplicada em doentes dos 9 aos 11 anos evitou a progressão da deformidade, com melhoria dos ângulos IMA e HA em 50% dos casos. Na nossa série apesar de existir uma melhoria do IMA em cerca de 80% dos casos (média de 2.4graus) e HVA em cerca de 62% (média 3.4 graus), esta não é suficiente para o tratamento definitivo da deformidade. Porém, é provável que evite a progressão da deformidade, facilitando procedimentos futuros, sendo necessário estudos comparativos. Consideramos que possa ser uma alternativa possível para o tratamento inicial do hallux valgus juvenil progressivo e sintomático, uma vez que é uma técnica cirúrgica minimamente invasiva, que teoricamente pode modelar o crescimento, sem alterar a mobilidade articular.