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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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DO EPISÓDIO INAUGURAL À DOENÇA ESTABELECIDA – ESTUDO PROSPETIVO DO PERFIL IMUNOLÓGICO DE CRIANÇAS COM DIABETES TIPO 1

Ana Laura Fitas1, Catarina Martins2, Glória Nunes2, Rosa Pina1, Lurdes Lopes1, Sigurd Lenzen3, Luís Miguel Borrego2, Catarina Limbert1

1 – Unidade de Endocrinologia Pediátrica; Área de Pediatria Médica; Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE; Lisboa, Portugal
2 – CEDOC, Chronic diseases research center – NOVA Medical School; Lisboa, Portugal
3 – MHH, Medizinische Hochschule Hannover; Hannover, Alemanha.

- 12º Congresso Português de Diabetes, 17-23/03/ 2016, Vilamoura (Poster)
- Rev Port Diabetes 2016, 11 (1) Suppl: 42 (Resumo)

Introdução: A diabetes tipo 1 (DT1) é uma doença autoimune resultante da convergência de complexos mecanismos imunológicos. Além do desequilíbrio entre linfócitos T reguladores (Treg) e efetores, tem emergido o envolvimento de outras populações da imunidade adquirida e inata. A caraterização imunológica ao longo da história natural da doença é essencial para identificar marcadores que permitam individualizar e monitorizar futuras estratégias de intervenção baseadas na imunomodulação.
Objetivo: Descrever o perfil imunológico de crianças com DT1, ao longo da evolução da doença.
Materiais e métodos: Estudo prospetivo de crianças com DT1 (N=28), avaliadas na apresentação (até 14 dias após o episódio inaugural), fase de remissão e doença estabelecida – timepoints (TP) 1, 2 e 3. Foi utilizada citometria de fluxo em sangue periférico e feita comparação com controlos saudáveis emparelhados para idade e sexo (n=28). 
Resultados: Foram avaliadas 28 crianças com DT1, de idades entre 5 e 16 anos (média de 10±2,6 anos), 46% do sexo masculino. O TP1 foi colhido em média 4±2 dias após o diagnóstico; o TP2 (entrada em remissão) ocorreu em média aos 111±45 dias de doença e o TP3 aos 397±106 dias. No que se refere à imunidade inata, os neutrófilos estão significativamente diminuídos face aos controlos (p<0.05), desde a doença inaugural, havendo recuperação progressiva, sobretudo no TP3. Têm padrão evolutivo sobreponível as células natural killer (NK), Th17 e Th1. As Treg descem apenas no TP3 para valores tendencialmente inferiores aos dos controlos. O aumento significativo do rácio Th17/Treg ao longo da evolução da doença (p<0.05) reflete a subida de Th17 e relativa depleção de Treg. Os linfócitos B diminuem a partir do TP2 (p<0.001), depleção que se prolonga até à fase de doença estabelecida.
Conclusão: A depleção de neutrófilos e NK é concordante com estudos anteriores. Admite-se envolvimento precoce destas células na fisiopatologia da DT1, também encontrado noutras doenças autoimunes. Os estudos publicados acerca das linhas Treg e Th17 descrevem mais frequentemente aumento de Th17 e franca depleção de Treg. Neste estudo, o compromisso de Treg foi discreto e tardio, o que poderá refletir o predomínio de defeitos funcionais. A caraterização das diferentes etapas de doença neste estudo prospetivo pode contribuir para delinear estratégias imunomoduladoras dirigidas à fase de doença, viabilizando a intervenção em fases muito precoces, ou até pré-clínicas.

Palavras-chave: diabetes tipo 1, perfil imunológico, história natural da doença