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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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MANIFESTAÇÕES PSIQUIÁTRICAS EM STATUS PÓS-GERMINOMA DA PINEAL

Cátia Almeida1

1- Médica Interna de Pedopsiquiatria, Área de Pedopsiquiatria, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central EPE, Lisboa

- Apresentação oral em reunião clínica conjunta de Pedopsiquiatria e Neurologia a 18 de novembro de 2015

Introdução:
Com a evolução do conhecimento no âmbito das neurociências, é inquestionável a relação entre doença mental e neurobiologia. Alguns quadros clínicos desafiam de forma mais evidente as fronteiras que tendemos a colocar entre patologias. O adoecer mental acontece num substrato neurológico, onde existem circuitos neuronais e neurotransmissores que chegam ao nosso olhar clínico sob a forma de fenómenos comportamentais.

Caso Clínico:
Rapaz de 16 anos, evacuado em outubro de 2014 de Cabo Verde por hipertensão intracraniana em relação com massa cerebral a esclarecer, com 5 meses de evolução. Foi confirmado o diagnóstico de Germinoma da Glândula Pineal por biópsia cerebral, tendo realizado quimioterapia e radioterapia, concluídas em abril de 2015, com remissão tumoral e estado de subvisão sequelar ao tumor. Em junho de 2015 tem o 1º episódio maníaco precedido por insónia progressiva, com remissão espontânea após 2 dias. Um mês depois desenvolve novo episódio maníaco, precedido por insónia progressiva, que motivou o internamento na Unidade de Pedopsiquiatria do H.D.Estefânia. Houve remissão total dos sintomas, tendo tido alta 18 dias depois, medicado com olanzapina (10mg) em switch para aripiprazol (5mg) e valproato de sódio (800mg/d). Três dias depois foi reinternado após reaparecimento de sintomas maníacos, mais intensos e refratários à terapêutica. O quadro maníaco caracterizava-se por elação do humor, verborreia, contacto desinibido e querelante, falsos reconhecimentos, delírios paranoides, agressividade e hipersexualidade. Foram tentados vários esquemas terapêuticos, com desenvolvimento de um quadro de catatonia associada aos neurolépticos e hipotiroidismo clínico e diabetes insipidus associada ao lítio. A estabilização clínica foi conseguida com valproato de sódio (1200mg/d), clozapina (50mg/d) e lorazepam (3mg/d), tendo tido alta 5 meses depois, com sintomas residuais.

Discussão:
Toda a investigação etiológica, feita em conjunto com a Neurologia, Oncologia Pediátrica e Endocrinologia, apontou para a remissão do quadro oncológico (RM-CE, punção lombar, marcadores tumorais, perfil hormonal), mas o receio de que  as manifestações psiquiátricas sejam um sinal precoce de recidiva continua presente. Por outro lado, e face à evolução atual do mesmo, este caso faz-nos refletir na fronteira entre um quadro maníaco em remissão parcial e/ou alterações da personalidade prévia em status pós-tumoral, pós-QT e pós-RT. Por fim, a relação entre um quadro psiquiátrico grave cujo pródromo foi a insónia e a alteração da glândula pineal pela doença de base e tratamentos, faz-nos refletir na necessidade de monitorização da função hormonal nestes tumores e no papel da administração exógena de melatonina.

Palavras-chave: germinoma da glândula pineal, doença bipolar, alterações do sono, melatonina