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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INFECÇÕES RETROFARÍNGEAS E LATEROFARÍNGEAS EM CRIANÇAS: A EXPERIÊNCIA DE UM HOSPITAL PEDIÁTRICO DURANTE A ÚLTIMA DÉCADA

Isabel Correiaa, José Colaçoa, Cecília Eliasa, Herédio Sousaa, Luísa Monteiroa

a Serviço de Otorrinolaringologia, Hospital D. Estefânia, CHLC, Lisboa

Artigo publicado na Revista da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia - Vol. 53, Nº1, Março 2015

Introdução: Apresentando-se muitas vezes de forma insidiosa e mascarando-se por tratamentos efectuados previamente, as infecções retro e laterofaríngeas são um desafio diagnóstico. São pouco frequentes na era antibiótica moderna, mas têm capacidade para causarem complicações potencialmente fatais.
Material e métodos: Estudo retrospectivo dos casos e análise de dados relativos à epidemiologia, etiologia, apresentação clínica, diagnóstico, tratamento e complicações, de crianças diagnosticadas com infecções retro e laterofaríngeas, no nosso hospital pediátrico, desde Janeiro 2001 a Janeiro 2012.
Resultados: Foram identificadas 23 crianças, com idades compreendidas entre os 3 meses e os 8 anos, com uma média de idades de 47 meses (4 anos). Treze (57%) apresentavam infecções retrofaríngeas e 2 (9%) infecções laterofaríngeas e 8 (35%), ambas. A incidência de casos foi maior no ano de 2010 (4 casos). Doze (52%) eram do sexo masculino e 11 (48%) do sexo feminino. Odinofagia (57%), dor cervical (26%), recusa alimentar (22%) foram as queixas mais comuns à apresentação. Febre (87%), torcicolo e rigidez cervical (65%), tumefacção cervical (52%) e prostração (35%) foram os achados físicos mais frequentes. Todos (100%) os doentes receberam antibioterapia endovenosa. O tratamento médico sem drenagem foi inicialmente  proposto para 15 (65%) crianças. A falência no tratamento médico, requerendo cirurgia, ocorreu em 5 (33%) delas. Num dos casos, foi necessário efectuar uma nova drenagem cirúrgica. O tratamento cirúrgico foi inicialmente proposto para 8 (35%) crianças, tendo sido efectuado durante as primeiras 24 horas. Este tratamento não teve falência em nenhum (0%) dos casos, não tendo sido necessária a realização de uma segunda cirurgia. No entanto, numa das crianças, por aparecimento de um novo abcesso noutra localização, houve necessidade de se proceder à sua drenagem. Duas (9%) crianças tiveram complicações: mediastinite, trombose da veia jugular e síndrome de Claud Bernard Horner.
Conclusões: Os sintomas na apresentação das infecções retro e laterofaríngeas na população pediátrica são variados, requerendo o seu diagnóstico um elevado índice de suspeita. O tratamento correcto e atempado é fundamental para um prognóstico favorável. O tratamento ideal nos doentes sem obstrução iminente da via aérea é controverso e objecto de debate, particularmente a escolha entre tratamento médico ou cirúrgico como primeira linha. Torna-se portanto, essencial, maior investigação nesta área, de forma a optimizar resultados.

Palavras-chave: Infecções retrofaríngeas; infecções laterofaríngeas; infecções cervicais profundas; celulite; fleimão; abcesso; drenagem cirúrgica; complicações.