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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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ENTERITE RÁDICA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO

Pedro Pires1, Joana Gomes Belo2, Isabel Baptista1

1- Unidade Funcional Medicina 1.2, Hospital de São José, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE
2- Serviço de Imunoalergologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE

Divulgação:
- Reunião nacional
- Apresentação sob a forma de poster
- Publicação sob forma de resumo

Resumo:
Introdução: a enterite rádica crónica (ERC) é uma lesão do cólon e/ou do delgado secundária à radioterapia (RT) com uma incidência até 20% nos doentes submetidos a RT pélvica.
Caso clínico: mulher, 56 anos, infecção VIH-1 conhecida desde 1991, sob terapêutica anti-retroviral com controlo imunológico e virológico. História de neoplasia do colo do útero diagnosticada em 2002, tratada cirurgicamente e com quimioterapia e RT neoadjuvante; neoplasia do canal anal em 2007, submetida a cirurgia de Hartmann (com colostomia permanente), doença arterial periférica obliterativa desde 2008 e tabagismo. Internada por dor abdominal difusa tipo cólica, vómitos de características intermitentes, enfartamento pós-prandial com 10 dias de evolução e perda ponderal (IMC=16Kg/m2). Analiticamente, lesão renal aguda e desequilíbrios electrolíticos importantes. Rápida melhoria da função renal após hidratação, com quadro abdominal inalterado apesar da optimização de terapêutica sintomática. Realizou ecografia abdominal e endoscopia digestiva alta que revelaram alterações inespecíficas, destacando-se abundante estase gástrica e intestinal. Na TC-abdominopélvica objectivou-se espessamento parietal difuso de ansas ileais pélvicas em relação com suboclusão intestinal, compatível com ileíte radica, apesar da exposição ter ocorrido 11 anos antes. Sem indicação para intervenção cirúrgica, foi proposta oxigenoterapia hiperbárica, que não chegaria a realizar por agravamento súbito do quadro, com oclusão intestinal e isquémia aguda bilateral dos membros inferiores, com óbito algumas horas depois.
Conclusão: a ERC manifesta-se de 18 meses a 6 anos após a RT (com casos relatados até 15 anos). Factores como IMC reduzido, imunodepressão, tabagismo, cirurgias pélvicas prévias e quimioterapia, presentes nesta doente predispõem à ocorrência desta entidade. A heterogeneidade do espectro clínico deve fazer considerar esta hipótese nos doentes com sintomatologia gastrointestinal expostos previamente a RT.

Palavras Chave: Enterite rádica, radioterapia, neoplasia