1- Médica Interna de Pedopsiquiatria, Área de Pedopsiquiatria, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central EPE, Lisboa
- Apresentação oral em reunião clínica na Equipa de Tratamento da Amadora a 18 de março 2015
- Apresentação oral em Reunião temática organizada pelo Centro de Respostas Integradas Lisboa Ocidental, a 3 de junho de 2015, no Auditório da Biblioteca Municipal da Amadora
Introdução: A patologia dual no adulto (duplo diagnóstico de abuso de substâncias em comorbilidade com outra patologia psiquiátrica) pode trazer desafios acrescidos no exercício da parentalidade. Os serviços de tratamento destas patologias tendem a colocar o foco da sua intervenção no adulto doente, enquanto pessoa, ficando à margem o seu ser pai ou mãe de crianças e adolescentes. São estes os pacientes identificados que chegam às consultas de Pedopsiquiatria. Olhar os filhos implica olhar os seus pais e identificar as dificuldades que têm nesse papel. Por outro lado, como vivem as crianças a experiência de ter um pai ou uma mãe com doença mental? Que impacto pode ter isso no seu desenvolvimento? Este trabalho pretende ser uma reflexão sobre estas questões e um desafio para uma maior articulação entre serviços de saúde mental de adultos e de crianças.
Discussão e conclusão:
Da experiência com adultos com patologia dual constata-se que a maioria deles se preocupa com o seu papel parental, ao contrário do que por vezes o seu comportamento parece revelar. Identificam as suas limitações e sofrem com elas, reconhecem a sua indisponibilidade para a relação com os filhos e carregam uma culpabilidade difícil de desmontar. Transportam para a relação com a criança os seus medos e fragilidades e tendem a “psiquiatrizar” os comportamentos dos filhos. Lidar com a própria impulsividade, intolerância à frustração, emoções expressas, ausência de prazer no exercício do papel parental, lidar com as relações significativas impregnadas de hipercontrolo e interdependência, com o estigma, com a interiorização de um real negativo, com a ausência de limites, acresce em dificuldade o exercício da parentalidade nestes adultos. É necessário um olhar atento e contentor, que minimize o sentimento de incompetência ampliado pela desqualificação a que mesmo nos serviços de saúde são votados. Um olhar capaz de ouvir e cuidar, resolvendo a ambivalência entre cuidar de si ou cuidar de um filho e previna situações de parentalização dos menores. Se os filhos podem ser co-terapeutas na reabilitação dos pais, com um sentido de gratificação e auto-eficácia positivo, os pais podem potenciar as suas competências parentais com a ajuda adequada dos profissionais que lidam com eles, seja no âmbito dos serviços de adultos, seja no âmbito dos serviços de saúde infanto-juvenis.
Palavras-chave: parentalidade, patologia dual, vinculação, parentalização, saúde mental