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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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COMPLICAÇÕES DA VACINAÇÃO COM BCG NUMA CONSULTA DE IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS. QUAL O IMPATO E QUEM INVESTIGAR

Joana Freitas, João Farela Neves1, Ana Isabel Cordeiro1, Conceição Neves1

Afliações
Hospital Dona Estefânia - Centro Hospitalar Lisboa Central (HDE – CHLC), 1Unidade de Imunodeficiências Primárias, HDE

Divulgação:
16º Congresso Nacional de Pediatria

Introdução:
A vacina BCG faz parte do Programa Nacional de Vacinação e é idealmente administrada à nascença aos recém-nascidos com peso superior a 2 Kg. A vacina protege contra as formas extra-pulmonares de tuberculose, sendo que a OMS não recomenda a sua utilização em países com incidência anual de tuberculose inferior a 5:100.000 ou com incidência de meningite tuberculosa em crianças abaixo dos 5 anos inferior a 1/10.000.000 indivíduos.

Objectivo: Descrever as complicações com BCG em crianças avaliadas em consulta de Imunodeficiências Primárias (IDP), bem como a análise dos factores que podem permitir identificar uma IDP em crianças com efeito adverso da vacinação com BCG.

Métodos: Estudo descritivo, de 2010 a 2014, de todas as referenciações por complicações da vacinação com BCG à consulta de IDP de um Hospital terciário.  Foram avaliados dados sociodemográficos, clínicos, analíticos e imagiológicos.

Resultados: Registaram-se 35 casos, com uma mediana de 6 meses de idade na primeira consulta (mín-1 mês, max-36 meses). Ao longo dos anos foram feitos menos estudos imunológicos e mais investigação imagiológica (RX tórax e ecografia abdominal para exclusão de disseminação do BCG).
A maioria das crianças teve BCGite local mas 17% apresentou uma forma disseminada. Confirmou-se o diagnóstico de IDP em 20% dos casos, com 2 casos de IDP sindrómica (deleção 16p11.2 e deleção 4q21.23), 2 casos de susceptibilidade mendeliana a micobactérias e 3 casos de imunodeficiência combinada grave. Registaram-se 2 óbitos, ambos directamente relacionados com a disseminação do BCG.
A existência de IDP subjacente associou-se à presença  de BCGite disseminada (p<0,0001), de antecedentes pessoais ou familiares relevantes (p<0,001). O tamanho da adenite axilar não se correlacionou com a presença de IDP subjacente. Não houve nenhum caso de IDP em crianças sem nenhuma das características referidas.

Conclusões:
Numa altura em que a vacinação universal com BCG é questionada, a tomada de decisões deve ser fundamentada não apenas na disponibilidade da vacina e na incidência de tuberculose (e das formas extra-pulmonares) no país, mas também nos dados existentes sobre as complicações da vacina. Este trabalho demonstra que o consumo de recursos de saúde associados à vacinação universal com BCG não é negligenciável, podendo a sua administração inclusivamente ser fatal.

Palavras Chave:
BCG, vacinação universal