1 - Serviço de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, E.P.E.;
2 - Serviço de Pediatria, Hospital de Faro;
3- Serviço de Neurologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, E.P.E.
- Reunião Encontros de Verão, Sociedade Portuguesa Neuropediatria, Olhão, 29-30 Junho 2012 (Comunicação oral).
Introdução: A etiologia dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) pediátricos permanece incerta em mais de metade dos casos, apesar da investigação sistemática de cardiopatia, trombofilia, vasculopatias auto-imunes, infecciosas ou causas metabólicas.
No AVC criptogénico a prevalência de foramen oval patente (FOP) é de cerca de 45% versus 25% na população saudável, afigurando-se como um potencial factor predisponente. Permanece controverso qual a melhor atitude terapêutica.
Caso clínico: Criança, sexo feminino, 5 anos, com crise focal motora hemicorpo direito e três meses depois, perturbação da marcha com quedas frequentes. Apresentava hemiparésia direita de predomínio crural, hiperreflexia, sinal Babinski e hemianópsia homónima direita. Exames neuroimagiológicos revelaram lesões isquémicas supratentoriaissub-agudas nos territórios ACA e ACM bilaterais e crónicas do território ACP esquerda.
Dos restantes exames complementares destacava-se: Angio-RM e angiografia sem sinais de vasculite; Angio-TC torácica e ecodoppler abdominal sem evidência de fístula artério-venosa; Ecocardiograma transtorácico com injecção de soro salino agitado evidenciou FOP; Estudo das trombofilias apenas com aumento do factor VIII; Serologias autoimunes e infecciosas negativas; Estudo metabólico (aminoácidos e ácidos orgânicos no soro e urina; potencial redox; lactato no líquor; cadeia respiratória mitocondrial nos linfócitos, α-galactosidade A) sem alterações.
Durante o internamento foi medicada com antiepilépticos, por manter crises clónicas focais, e aspirina 5 mg/kg/dia. Após discussão com Cardiologia Pediátrica procedeu-se ao encerramento do FOP via percutânea.
Discussão: No AVC criptogénico deve-se investigar a presença de FOP como causa de embolismo paradoxal. A decisão entre encerramento cirúrgico ou tratamento médico na prevenção secundária tem sido objecto de discussão. Apesar de múltiplos estudos observacionais favorecerem o encerramento cirúrgico, um estudo recente aleatorizado e multicêntrico (CLOSURE I) revelou não haver um benefício significativo. Quanto ao tratamento médico existe evidência da superioridade dos antiagregantes. Discute-se a extrapolação destes resultados para a idade pediátrica.
Keywords: crytogenic stroke, patent foramen ovale, surgical treatment, medical treatment.