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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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Streptococcus do grupo B no recém-nascido: do risco à infecção

Maria Teresa Neto

Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de Dona Estefânia. Centro Hospitalar de Lisboa Central EPE. Nova Medical School/Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa. Lisbon, Portugal

Palestra. I Jornadas conjuntas Pediatria e Ginecologia/Obstetrícia. III Jornadas de Neonatologia. Hospital de Vila Franca de Xira. 19 e 20 de Setembro 2014

O primeiro artigo a chamar a atenção para a infecção neonatal por Streptcoccus do Grupo B (SGB) foi publicado em 1973 no J Pediatr. Tudo o que julgamos saber hoje, já lá estava implícito e explícito. As primeiras directivas para rastreio e profilaxia surgiriam apenas 23 anos depois. Por essa altura, estudando a infecção neonatal por SGB num período de 8 anos na Maternidade Magalhães Coutinho encontrámos uma incidência de 0,73/1000 NV (2,9/1000 nos NV pré-termo) e letalidade de 28,6%. De notar que aquela incidência era superior à encontrada no estudo de vigilância epidemiológica nacional, realizado com a Unidade de Vigilância Pediátrica da SPP (2001-2007). Mesmo assim, concluíamos que a infecção por SGB tinha tido pouca expressividade na casuística de Maternidade e da UCIN mas que “apesar de ter sido um agente pouco frequente devia ser considerado na etiologia da sépsis precoce com pneumonia”. Por mais “exótica” que possa parecer esta conclusão, eventualmente talvez tivéssemos alguma razão. A grande preocupação da altura eram as Enterobacteriácia e a Listeria, causas muito frequentes de infecção neonatal e motivo de elevada mortalidade. Progressivamente o SGB foi tomando o seu lugar até começar a exigir medidas semelhantes às tomadas noutros países. É difícil decidir se a profilaxia deve ser baseada no risco infeccioso ou no rastreio da grávida. Existem enviesamentos no rastreio e na profilaxia e recém-nascidos em que está preconizado não fazer profilaxia podem vir a desenvolver infecção precoce por SGB. Por outro lado os factores de risco podem não ser evidentes no momento do parto. Apesar de tudo isto a aplicação de normas de rastreio e profilaxia condicionaram uma diminuição muito importante dos casos de infecção precoce por SGB. Contudo, a tomada de decisão de antibioticoterapia num determinado RN não deve depender apenas do resultado do rastreio. Outros factores de risco têm que ser considerados mesmo com rastreio negativo: rotura prematura/prolongada de membranas, prematuridade espontânea, febre materna, sinais laboratoriais de infecção materna, devem ser objecto de atenção. Mesmo assim ocorrerão muitos casos inesperados de sepsis precoce por SGB, para os quais o clínico deve estar alerta.

Keywords: Recém-nascido, Risco infeccioso, Streptococcus do grupo B