1 - Serviço de Psiquiatria, Hospital Doutor Fernando da Fonseca EPE, Amadora
2 - Unidade de Pedopsiquiatria, Área de Pedopsiquiatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE, Lisboa
- XXV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Faro (Comunicação Oral)
Introdução: A síndrome de referência olfativa foi descrito pela primeira vez em 1971 por Prys-Philips. Esta designação refere-se a uma rara condição psiquiátrica que se caracteriza pela crença/preocupação do indivíduo de que emana um odor corporal desagradável para os outros. As classificações internacionais não contemplam a síndrome de referência olfativa enquanto entidade distinta. O DSM-V, por exemplo, conceptualiza os seus sintomas no âmbito do diagnóstico de perturbação delirante de tipo somático. A inclusão da síndrome no espectro das perturbações psicóticas tem sido questionada devido a fatores como a sobreposição sintomática com entidades como a perturbação obsessivo-compulsiva, a fobia social, a perturbação dismorfofóbica corporal, entre outras. Pretende-se relatar um caso clínico e, neste contexto, efetuar uma revisão não sistemática sobre o tema.
Relato de caso: Trata-se de uma jovem de 15 anos referenciada à consulta externa de pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia por importante isolamento social, relacionado com ideias de que o seu corpo emite um odor desagradável aos outros. Os sintomas iniciaram-se aos 13 anos de idade, tendo sido exacerbados pela menarca, culminando com recusa escolar e restrição física ao domicílio. Paralelamente, foram observados comportamentos repetitivos centrados na camuflagem do odor, tais como compulsões de lavagem de determinadas partes do corpo e verificações repetidas do odor corporal.
Conclusões: Abordam-se os dados fenomenológicos e demográficos associados a esta condição clínica bem como a pertinência da sua classificação enquanto entidade independente. Pretende-se também contemplar a relação entre ideia obsessiva e ideia delirante, reforçando a noção de espectro. Salienta-se ainda a importância de uma abordagem multidisciplinar que combine intervenções psicofarmacológicas, reabilitativas e psicoterapêuticas.
Palavras Chave: síndrome de referência olfativa, perturbações psicóticas, perturbações da ansiedade, adolescência