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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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QUANDO O TEMPERO NÃO DÁ SÓ SABOR – UM CASO CLÍNICO DE ALERGIA À MOSTARDA

Elena Finelli1, Sara Prates1, Miguel Paiva1, Paula Leiria Pinto1

1- Serviço de Imunoalergologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE

- XXXV Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica; Porto 3 a 5 de Outubro de 2014 (Poster)

Introdução: Ao longo das últimas decadas, em paralelo com o aumento da prevalência das doenças alérgicas, a alergia alimentar tem vindo a ser considerada um problema de crescente importância, particularmente na faixa etária pediátrica. O envolvimento dos diferentes alimentos varia com os hábitos dietéticos. Contudo, a alergia à mostarda é uma entidade clínica pouco habitual entre nós.

Caso clínico: Criança do sexo masculino, de 8 anos (A) de idade, seguido na nossa consulta desde os 2A por alergia às proteinas do leite de vaca e ao ovo mal cozinhado (ultrapassadas). Aos 2,5A apresentou reacção de urticária com angioedema da face após ingestão de molho pesto de caju; neste contexto realizou testes de sensibilidade cutânea por picada (TCP), que foram positivos para amendoim, avelã, noz, caju e pistacho, ficando em dieta de evicção de frutos secos. Aos 7A, relata episódio de urticária da face, conjuntivite, prurido orofaringeo e desconforto gástrico imediatamente após refeição condimentada com mostarda. Cerca de 1 hora depois, apresentou duas dejecções diarreicas. Assisitiu-se à resolução do quadro clínico em cerca de 2 horas após toma de anti-histamínico. No verão anterior ao episódio tinha estado numa festa onde tinha comido cachorros quentes com mostarda sem qualquer tipo de reacção; não recordava ter comido mostarda anteriormente. Realizou TCP com preparados de mostarda em natureza (3 variedades) que foram positivos (negativos em 6 controlos). Foi iniciada dieta de evicção, não tendo sido observados episódios de contacto acidental ou novas reacções.

Discussão: Apresentamos um caso de alergia à mostarda num doente com alergia primária a frutos secos. A planta da mostarda pertence à família das Brassicaceae. Até à data foram identificados quatro alergénios: Sin a 1 (uma 2S albumina), Sin a 2 (uma 11S globulina que partilha epítopos com a maioria dos frutos secos), Sin a 3 (LTP) e Sin a 4 (profilina). No caso desta criança, a sensibilização à mostarda surgiu posteriormente à alergia a frutos secos, podendo ter resultado de reactividade cruzada através do alergénio Sin a 2. A abordagem terapêutica baseia-se nas medidas de evicção alimentar, contudo é dificuldada pelo facto da mostarda surgir frequentemente como alergénio oculto. Torna-se essencial, portanto, além de um correcto diagnóstico, a educação dos familiares para a interpretação da leitura dos rótulos dos alimentos comercializados.

Palavras-Chave: Alergia alimentar, criança, frutos secos