1. Área de Pediatria Médica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE
2. Faculdade de Ciências Médicas/Nova Medical School, Universidade Nova de Lisboa
3. Centro Colaborador Português da Rede Cochrane Iberoamericana, Lisboa
4. Unidade de Farmacologia Clínica, Instituto de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Centro Académico de Medicina de Lisboa
5. Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de Dona Estefânia, CHLC, EPE
Acta Pediatr Port 2014;45:341-343
A presente revisão da Cochrane agrega a maior evidência disponível até agora sobre o uso de probióticos para a prevenção da enterocolite necrosante (ECN) nos RN pré-termo. Esta actualização da revisão anterior está de acordo com antigas metanálises e estudos observacionais posteriores que confirmam que a administração entérica de probióticos reduz significativamente a incidência de ECN grave, a mortalidade (global e associada à ECN) e facilita a nutrição entérica exclusiva. A magnitude do efeito e a robustez da evidência tem levado a que vários especialistas comparem o efeito dos probióticos ao de intervenções bem estabelecidas na neonatologia como o uso de surfactante ou a corticoterapia pré-natal. Os resultados são consistentes no grupo de MBP, mas no grupo de EBP não atingiram significância estatística. Neste grupo apenas temos dados de dois estudos com um número de casos muito pequeno.A maior fraqueza desta revisão advém da grande variabilidade no tempo de início, duração e formulação dos probióticos nos estudos incluídos. O efeito protector foi maior quando foram administrados vários probióticos aquando da primeira alimentação entérica, e por um período de pelo menos seis semanas. Estudos futuros devem centrar-se em identificar qual o probiótico mais eficaz e em que regime (dose, frequência, duração) terá melhores efeitos. As incertezas na segurança do uso dos probióticos num grupo de doentes fisiologicamente imunodeprimido tem sido um dos maiores dissuasores do seu uso. Porém esta revisão e os estudos observacionais posteriores com amostras maiores não reportaram infecções sistémicas causadas pelos próbioticos administrados. Um artigo recente onde é reportada a emergência de uma estirpe de Enterococcus resistente à vancomicina, levanta esta preocupação que merece melhor esclarecimento no futuro. Será importante que o enquadramento regulatório dos probióticos no mercado seja feito como medicamento, assegurando que tanto a eficácia como a segurança sejam devidamente avaliadas. Com a presente evidência não é o uso de probióticos nos RN pré-termo que está em causa, mas como o fazer. Para isto será necessário congregar esforços para uniformizar as metodologias dos próximos estudos e que as recomendações para a prática clínica não extrapolem dados entre formulações e que assegurem a qualidade e monitorização dos probióticos usados.
Keywords: Enterocolite necrosante, prevenção, probióticos