1- Unidade de Cuidados Intensivos, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa
2 – Departamento Neurologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa
15º Congresso Nacional de Pediatria, Albufeira, 16-18 de Outubro de 2014. Poster com discussão
Resumo:
Introdução: A epilepsia occipital, como forma de epilepsia benigna na infância, pode apresentar-se com alteração do estado de consciência, sem a descrição clássica de alterações visuais ou como estado de mal não convulsivo, com ou sem sintomas autonómicos. Muitas vezes poder-se-á confundir com encefalite e enxaqueca com aura.
Relato de caso: Criança de 4 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, que em aparente estado de saúde, inicia quadro de febre e rinorreia 2 dias antes do internamento, tendo recorrido ao SU por episódio com 15 min de duração caracterizado por confusão, discurso ininteligivel e hiporreactividade, que reverteu espontaneamente. A primeira observação no SU não apresentava alterações neurológicas e GCS de 15, contudo poucas horas depois novo episódio descrito como alteração do estado de consciência com hiporreactividade e sonolência. Inicialmente não reagia a estimulos dolorosos, posteriormente, chorosa e mais reativa. Hipertonia dos membros inferiores, hipotonia dos membros superiores, esboçando Babinski bilateralmente, mais evidente à esquerda. Fez TAC-CE que não revelou alterações e pelo quadro de oscilação do estado de consciência e suspeita de encefalite, foi transferida para a UCIP, apresentando recuperação rápida inicial do estado neurológico. Fez novo episódio de hiporreactividade, GCS de 10, sem movimentos anómalos, tendo feito fenitoina com reversão completa do quadro. Durante o internamento fez ECG compatível com epilepsia occipital e RMN-CE sem alterações. Avaliação analítica sem alterações relevante. Teve alta 4 dias depois clinicamente bem. Parou fenitoina, mantendo terapêutica com valproato de sódio, sem novos episódios convulsivos.
Discussão: A clínica de oscilação do estado de consciência e história de febre é facilmente associada ao diagnóstico de encefalite/meningite. No entanto, este perfil semiológico pode estar associado a formas de epilepsia benignas sem etiologia infecciosa. No caso apresentado, a total recuperação do estado de consciência entre os períodos de hiporreactividade ajudou a suspeitar de uma destas entidades, tendo o anti-epiléptico servido de prova terapêutica e o EEG de confirmação de epilepsia occipital, evitando a morbilidade de técnicas diagnósticas mais invasivas, tratamentos agressivos e internamento prolongado.
Palavras Chave: epilepsia occipital, alteração consciência, EEG