1 - Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa central
2 - NOVA Medical School/ Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa
3 - Dietética e Nutrição, Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa.
- Mesa redonda - XV Congresso Anual da APNEP. Matosinhos, 27/04/2014
Ao atingir a idade de termo, estima-se que a grande maioria das crianças nascidas muito pré-termo tenha restrição de crescimento, comparando com o crescimento de fetos com idêntica idade de gestação. Isto ocorre por uma proporção importante de recém-nascidos muito prematuros já nascer com restrição de crescimento intrauterino e nos primeiros dias ou semanas após o nascimento ser difícil administrar o suporte nutricional desejável por via parentérica e entérica, somando-se a restrição de crescimento extrauterino. Os principais efeitos da desnutrição precoce refletem-se a médio e longo prazo no crescimento e composição corporal, na nutrição cerebral, no neurodesenvolvimento e na doença metabólica óssea.
Fenton e Kim (2013) publicaram recentemente curvas de crescimento, baseadas na maior meta-análise de registos de somatometria ao nascer, proporcionando valores próximos ao padrão, que permitem avaliar quer o estado de nutrição intrauterino desde as 24 semanas de gestação, quer o crescimento pós-natal até às 10 semanas após termo. O inconveniente dessas curvas é não entrarem em linha de conta com a perda de peso consequente à perda de água extracelular, que ocorre fisiologicamente durante as duas semanas pós-natais. Neste período, serão por isso recomendáveis valores de referência, como as de Ehrenkranz et al (1999), que contemplam tal perda.
Existe controvérsia sobre o suporte nutricional ideal a estes recém-nascidos, pois uma nutrição mais agressiva pode predispor à obesidade e à síndrome metabólicae uma nutrição modesta pode provocar má-nutrição cerebral com consequências nefastas a nível morfológico e funcional. Na dúvida, tem sido proposto privilegiar a nutrição cerebral.
A avaliação da composição corporal por métodos confiáveis constitui uma forma de determinar a qualidade do crescimento e evitar o ganho excessivo de adiposidade com implicações futuras. Sabe-se que crianças nascidas muito pré-termo, ao atingirem 40 semanas de idade pós-mesntrual têm menor peso, comprimento e perímetro cefálico e mais adiposidade (avaliadas por pletismografia de deslocação de ar) do que as nascidas de termo. Existe controvérsia de como nutrir estas crianças, alimentadas com fórmula láctea, após a alta hospitalar. Baseados na avaliação de adiposidade por absorciometria bifotónica (DEXA) alguns autores sugerem fórmulas com reforço da densidade proteica, mas não da densidade energética, enquanto outros propõem fórmulas com reforço tanto proteico como energético. Em crianças de termo, foi demonstrado que a restrição da ingestão gordura nos primeiros meses de vida, por receio de obesidade, pode levar ao efeito contrário por motivar resistência à leptina a longo prazo. Desconhece-se se o mesmo efeito pode ocorrer em crianças nascidas pré-termo e isto deve ser tido em conta na sua alimentação durante os primeiros meses de vida.
Palavras Chave: má-nutrição, unidade de cuidados intensivos neonatais