Equipa Fixa da Urgência de Pediatria Médica, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitralar Lisboa Central, EPE, Lisboa
II Reunião da Sociedade de Urgência e Emergência da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Coimbra 2014 –Comunicação em Mesa Redonda
Resumo: O paracetamol é dos fármacos mais utilizados em Pediatria. A sua disponibilidade leva a que o seu uso seja considerado seguro e as complicações de sobredosagem subestimadas. É das maiores causas de falência hepática e transplantação hepática a nível internacional. O paracetamol absorvido por via oral (xarope), atinge picos plasmáticos em 30-60 minutos. As formulações retais têm absorção errática com pico tardio. As formulações endovenosas têm picos cerca de 15 minutos após administração. O efeito da droga faz-se pela inibição da Cox2 sem interferência com a produção de tromboxanos, efeito termorregulador direto, serotoninérgico e ao nível dos receptores de canabinóides. A metabolização ocorre no nível hepatócito. A glucoronidação é preponderante e apenas 10% do fármaco é metabolizado, em circunstâncias normais, ao nível do citocromo P450. Na sobredosagem pode-se esgotar a capacidade de glucoronidação , aumentando a quantidade de fármaco metabolizado ao nível do citocromo P450 com produção do metabolito tóxico N-acetil-p-benzeno-quinona-imina (NAPQI). Este metabolito pode ser conjugado com glutatião, permitindo a detoxificação e eliminação urinária. Esgotada a capacidade de detoxificação de NAPQI , a toxicidade ocorre por via celular direta (ligação a proteínas) e por mecanismos de amplificação celular (apoptose secundária ao stress oxidadativo) e extracelular (resposta citotóxica). Na ausência de factores de risco, consideram-se tóxicas doses superiores a 100mg/kg em toma única oral ou 75 mg / kg se endovenosa. A toxicidade hepatocelular estabelece-se após as 24h e a evolução para falência hepática às 72H. A avaliação do nivel de paracetamol com o nomograma de Rumack-Mathew em associação com a avaliação clinica-laboratorial permite a correta abordagem do doente. A N-acetilcisteina aumenta o glutatião disponível para neutralização de NAPQI e tem efeitos positivos nas microcirculação hepática, contribuindo para a regeneração dos hepatócitos. A sua utilização é recomendada por ser eficaz na prevenção e reversão das lesões hepatocitárias. Em resumo a toxicidade do paracetamol não pode ser subestimada e a sua administração deve atender ao conhecimento do perfil biológico da droga e do seu mecanismo de toxicidade. O alto nível de suspeição, correta interpretação da avaliação clinica-laboratorial e utilização de N-acetilcisteína permitem minimizar seus efeitos tóxicos, nomeadamente ao nivel hepático.
Palavras Chave: paracetamol; intoxicação; n-acetilcisteina