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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INTOXICAÇÂO POR PARACETAMOL

António Pedro Campos

Equipa Fixa da Urgência de Pediatria Médica, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitralar Lisboa Central, EPE, Lisboa

II Reunião da Sociedade de Urgência e Emergência da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Coimbra 2014 –Comunicação em Mesa Redonda

Resumo: O paracetamol é dos fármacos mais utilizados em Pediatria. A sua disponibilidade leva a que o seu uso seja considerado seguro e as complicações de sobredosagem subestimadas. É das maiores causas de falência hepática e transplantação hepática a nível internacional. O paracetamol absorvido por via oral (xarope), atinge picos plasmáticos em 30-60 minutos. As formulações retais têm absorção errática com pico tardio. As formulações endovenosas têm picos cerca de 15 minutos após administração. O efeito da droga faz-se pela inibição da Cox2 sem interferência com a produção de tromboxanos, efeito termorregulador direto, serotoninérgico e ao nível dos receptores de canabinóides. A metabolização ocorre no nível hepatócito. A glucoronidação é preponderante e apenas 10% do fármaco é metabolizado, em circunstâncias normais, ao nível do citocromo P450. Na sobredosagem pode-se esgotar a capacidade de glucoronidação , aumentando a quantidade de fármaco metabolizado ao nível do citocromo P450 com produção do metabolito tóxico N-acetil-p-benzeno-quinona-imina (NAPQI). Este metabolito pode ser conjugado com glutatião, permitindo a detoxificação e eliminação urinária. Esgotada a capacidade de detoxificação de NAPQI , a toxicidade ocorre por via celular direta (ligação a proteínas) e por mecanismos de amplificação celular (apoptose secundária ao stress oxidadativo) e extracelular (resposta citotóxica). Na ausência de factores de risco, consideram-se tóxicas doses superiores a 100mg/kg em toma única oral ou 75 mg / kg se endovenosa. A toxicidade hepatocelular estabelece-se após as 24h e a evolução para falência hepática às 72H. A avaliação do nivel de paracetamol com o nomograma de Rumack-Mathew em associação com a avaliação clinica-laboratorial permite a correta abordagem do doente. A N-acetilcisteina aumenta o glutatião disponível para neutralização de NAPQI e tem efeitos positivos nas microcirculação hepática, contribuindo para a regeneração dos hepatócitos. A sua utilização é recomendada por ser eficaz na prevenção e reversão das lesões hepatocitárias. Em resumo a toxicidade do paracetamol não pode ser subestimada e a sua administração deve atender ao conhecimento do perfil biológico da droga e do seu mecanismo de toxicidade. O alto nível de suspeição, correta interpretação da avaliação clinica-laboratorial e utilização de N-acetilcisteína permitem minimizar seus efeitos tóxicos, nomeadamente ao nivel hepático.

Palavras Chave: paracetamol; intoxicação; n-acetilcisteina