1 - Unidade de Infecciologia, Área de Pediatria Médica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa
2 - Equipa fixa de urgência, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, Lisboa
- 2ª Reunião da EuSPP. Coimbra, 17 de maio de 2014. Comunicação oral.
- Comunicação oral
Introdução: A administração endovenosa (ev) de paracetamol em contexto hospitalar associa-se a erros de dosagem frequentes. A avaliação dos níveis séricos de paracetamol permite avaliar a sua potencial toxicidade, por comparação com nomogramas pré-estabelecidos.
Relato de caso: criança de 17 meses, portador de trissomia 21, com quadro de gastroenterite aguda com desidratação ligeira, internado cerca de 24 horas em serviço de urgência (SU) para hidratação ev. Por febre, foi, erradamente, administrada uma dose de paracetamol ev de 60mg/kg (dose tóxica). O doseamento de paracetamol às quatro horas foi de 50.6 μg/mL, não tendo sido valorizado, após comparação com o nomograma de Rumack-Matthew. Teve alta por melhoria do quadro sintomático. Dois dias depois regressou ao SU, mantendo febre, diarreia em associação a tosse, polipneia, gemido, hepatomegalia de 2 cm e alternância de períodos de irritabilidade e sonolência. Analiticamente, verificou-se elevação de amónia (134 μg/dL), de enzimas de citólise com AST 4576U/L e ALT 4783U/L, prolongamento de PT 17.8 segundos (s), INR 1.53 e hipoalbuminemia (27 g/L). O electroencefalograma não mostrou sinais de encefalopatia.
Da investigação etiológica foram negativas as serologias para hepatites A, B e C, CMV e EBV, confirmada por técnica de amplificação de ácidos nucleicos no sangue.
Admitida a hipótese de intoxicação a paracetamol efetuou terapêutica com vitamina K e N-acetilcisteína (NAC) endovenosa. Verificou-se melhoria clínica e laboratorial progressivas, à data de alta, no nono dia, com valores de PT 10.5 s, AST 42 U/L e ALT 300 U/L.
Conclusões: Tal como referido na literatura, os casos de intoxicação a paracetamol ocorrem com relativa frequência. Este caso ilustra a ausência de diagnóstico numa fase inicial. O nomograma de Rumack-Matthew considera como limite tóxico para a introdução de terapêutica com NAC, a concentração sérica de paracetamol superior a 150 μg/mL, quatro horas após a exposição. Este nomograma espelha, no entanto, o perfil bioquímico expectável em casos de intoxicação oral. Na literatura vem sendo proposta a sua adaptação para diferentes cenários de intoxicação, modificando-se as orientações estabelecidas para a introdução terapêutica, tanto no que concerne a dose tóxica, como limiar sérico a considerar.
Palavras-chave: iatrogenia; paracetamol; endovenoso