1-Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia
- Sessão Clínica da Área de Pediatria Médica, 29 de Julho de 2014
Compreender os determinantes dos hábitos alimentares das crianças é essencial para o desenvolvimento de intervenções efectivas, sobretudo na idade pré-escolar onde a evidência é particularmente escassa. Este estudo teve como objectivo analisar os determinantes da alimentação de crianças com 4 anos de idade, mais precisamente fatores maternos, de contexto familiar e hábitos alimentares em idades mais precoces. Esta investigação decorreu no âmbito da coorte Geração 21, a primeira coorte de nascimentos portuguesa que acompanha prospetivamente 8647 crianças nascidas nos hospitais públicos com maternidade da área metropolitana do Porto, nos anos de 2005 e 2006. A análise do consumo alimentar baseou-se em questionários de frequência alimentar, aplicados ao principal cuidador em entrevistas presenciais. A análise das práticas maternas de controlo da alimentação da criança usou informação de uma escala previamente validada numa subamostra da coorte, auto- preenchida pelas mães. As associações das práticas maternas de controlo alimentar, do contexto familiar e das características maternas com a alimentação das crianças, foram examinadas por modelos de regressão logística. Na análise entre o consumo de alimentos e bebidas de elevada densidade energética aos 2 anos e IMC aos 4 anos, usaram-se modelos cross-lagged panel design.
Após ajuste para características maternas (IMC, escolaridade) e da criança (sexo, z-scores de IMC), maiores níveis maternos de responsabilidade, controlo explícito e controlo encoberto (percebido e não percebido pela criança, respetivamente) mostraram-se associados a menor probabilidade de as crianças (n=4122) consumirem fruta e hortícolas abaixo das recomendações. O controlo encoberto associou-se a maior probabilidade de as crianças consumirem carne vermelha <2 vezes/semana e a restrição associou-se a menor probabilidade de consumo deste alimento>3 vezes/semana. A “pressão para comer” apenas se associou ao aumento da probabilidade de consumir laticínios mais de 3 vezes por dia. As restantes práticas maternas associaram-se a menores probabilidades de consumo de alimentos e bebidas de elevada densidade energética.
Aos 4 anos de idade identificaram-se três padrões alimentares nas crianças (n=3416): um com consumos superiores de alimentos de elevada densidade energética e laticínios (P1, 21% das crianças), outro com consumos inferiores de fruta, hortícolas, carnes brancas e peixe (P2, 37% das crianças) e um terceiro – mais saudável (P3, 42% das crianças) – com consumos superiores de alimentos saudáveis e inferiores de alimentos menos saudáveis. Menor estatuto socioeconómico quando a mãe tinha 12 anos, mostrou um efeito global de aumento da probabilidade de prática dos padrões alimentares menos saudáveis, explicado pelo efeito da escolaridade materna (no momento do nascimento da criança) sobre o consumo alimentar aos 4 anos de idade da criança. Diferentes características familiares associaram-se a cada um dos padrões menos saudáveis. A alimentação materna foi o principal fator associado à alimentação da criança.
Numa subamostra da coorte (n=589), a análise cross-lagged mostrou que o consumo de alimentos e bebidas de elevada densidade energética/baixa densidade nutricional aos 2 anos estava associado ao seu consumo dois anos mais tarde, bem como mostrou persistência do IMC ao longo do tempo. Contudo, não se observou uma associação significativa entre consumo destes alimentos e bebidas aos 2 anos e IMC aos 4 anos. Diversos fatores no seio do contexto familiar influenciam a alimentação de crianças em idade pré-escolar, suportando a necessidade de incluir as mães nos programas de intervenção dirigidos a esta crianças nesta faixa etária.
Palavras Chave: alimentação, pré-escolar, familiares.