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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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MENINGITE BACTERIANA E NEURODESENVOLVIMENTO – SEQUELAS A LONGO PRAZO

Tiago Milheiro Silva(1); Patrícia Lopes(1); Maria João Pimentel (1),  Isabel Santos (1) Maria João Brito(2); Maria do Carmo Vale(1)

1 – Centro de Desenvolvimento
2 – Unidade de Infecciologia, Hospital Dona Estefânia – Centro Hospitalar de Lisboa Central EPE.

INTRODUÇÃO - As complicações e sequelas das meningites bacterianas permanecem uma importante causa de morbilidade no desenvolvimento harmonioso da criança, apesar de estratégias de prevenção e da antibióticoterapia eficaz.

OBJETIVOS – Caracterizar as sequelas em termos de desenvolvimento de uma população de doentes enviados a um Centro de Desenvolvimento após diagnóstico de meningite bacteriana.

MATERIAL E MÉTODOS - estudo descritivo retrospetivo, referente ao período entre 2008 e 2012 de doentes (idade <18anos) seguidos em consulta de Desenvolvimento após internamento por  quadro de meningite bacteriana. Foram analisados dados demográficos, clínicos, complicações agudas e sequelas a longo prazo da meningite, bem como dados referentes à intervenção realizada.

RESULTADOS – Foram identificadas 47 crianças (55% sexo masculino) com idade mediana de 12 meses aquando o episódio de meningite (min. 7 dias, máx. 12 anos). Cerca de 57% das crianças (27) apresentaram complicações agudas da meningite: 19 (40%) alterações neurológicas e 12 (26%) alterações sistémicas. Das que apresentam alterações neurológicas agudas 9 (47%) apresentaram qualquer alteração do desenvolvimento, enquanto que das crianças que não apresentaram complicações agudas (20), 10 (50%) apresentaram qualquer alteração a nível de desenvolvimento Em termos de sequelas a longo prazo, em 23  crianças (49%) não foi identificada qualquer sequela.  Em 7 crianças (15%) verificou-se surdez neurossensorial sequelar de gravidade variável, 9 crianças (19%) apresentaram sequelas neurológicas e 21 (45%) sequelas de neurodesenvolvimento. Foram identificadas 11 crianças com défice cognitivo (DC) de novo, duas das quais com défices graves (Griffiths <35). O Griffiths médio da amostra foi de 89,57, variando entre 96,4 no grupo pós meningite por N. meningitidis e 77,9 no grupo pós infeção por Streptococus pneumoniae. Foram identificadas ainda alterações de linguagem em 10 crianças (21%), alterações de comportamento em 9 (19%) e dificuldades de aprendizagem em  4 (8,5% - excluídas as crianças com DC). Do total da amostra estudada, 25 crianças (53%) necessitaram de diferentes tipos de intervenção educativa e/ou terapêutica.

DISCUSSÃO – As sequelas a nível do Neurodesenvolvimento são comuns após meningite bacteriana. Estas sequelas podem tornar-se evidentes apenas vários anos depois do episódio de meningite, devendo o seguimento destas crianças manter-se até ao início do ensino secundário (16-17 anos). Conclui-se da necessidade e interesse de estudos longitudinais com o objetivo de melhor caracterizar o impacto desta patologia na qualidade de vida da criança e família a médio e longo prazo, apostando em estratégias de prevenção primária de meningite.