1 - Serviço de Imunoalergologia, Hospital Dona Estefânia, CHLC EPE, Lisboa; 2 - Unidade de Pediatria Geral, Área de Pediatria Médica, Hospital Dona Estefânia, CHLC EPE, Lisboa
14º Congresso Nacional de Pediatria, Porto, 3 a 5 Outubro de 2013
Introdução e Objectivos: A bronquiolite aguda representa uma causa comum de morbilidade nas crianças com idade inferior a dois anos e está associada a um número crescente de internamentos ao longo das últimas décadas. Apesar de poder ocorrer ao longo do ano, há caracteristicamente picos epidémicos durante o Inverno. O nosso objectivo foi caracterizar e comparar os casos de bronquiolite aguda em dois Invernos consecutivos em crianças internadas num Serviço de Pediatria Geral de um hospital terciário.
Metodologia: Estudo retrospectivo descritivo de crianças internadas com diagnóstico de bronquiolite aguda, num serviço de Pediatria Geral nos meses de Outubro a Março dos dois anos transactos (2011-2012 e 2012-2013), correspondentes a dois Invernos consecutivos. Foram incluídas apenas as crianças com diagnóstico primário de bronquiolite.
Resultados: Foram incluídas 309 crianças (61,5% do sexo masculino), com idades compreendidas entre 12 dias e 24 meses (média 5,6 ± 5,5 meses, mediana 3 meses). O principal motivo de internamento foi a hipoxemia (51,7%), seguido de intolerância oral (48,2%) e dificuldade respiratória moderada/grave (38,1%), podendo apresentar mais do que um destes factores. Estavam presentes factores de risco em 185 crianças, sendo os principais a idade inferior a 12 semanas (41,7%) e a prematuridade (11,3%). A duração média do internamento foi 5,2 ± 3,2 dias (mediana 5 dias). O principal agente etiológico foi o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por 174 casos (56,3%). Em 60 (19,4%) crianças houve complicações, sendo a mais frequente a pneumonia bacteriana (9,7%), seguida da atelectasia (6,4%). As crianças que desenvolveram insuficiência respiratória eram significativamente mais novas do que as que não apresentaram esta complicação (idade média 1,39 vs. 5,74 meses, p<0,0001) e em 90% destas foi isolado VSR (p=0,039). Adicionalmente, as crianças em que se identificou VSR eram também significativamente mais novas em comparação com os casos negativos (idade média 4,83 vs. 6,51 meses, p=0,0086). Pelo contrário, o desenvolvimento de pneumonia estava associado a uma maior idade média (8,14 vs. 5,32 meses, p=0,025), bem como a um prolongamento do internamento (7,7 vs. 4,9 dias, p<0,0001). 88 (28,4%) crianças apresentaram alguma comorbilidade durante o internamento, sendo a principal a otite média aguda (18,7%). Em 195 casos (65,2%) verificou-se hipoxémia durante o internamento, 58,3% dos quais com infecção a VSR (p=0,94). Comparando os dois Invernos, o pico de incidência foi em Janeiro-Fevereiro (90 casos) em 2011-2012 e em Dezembro- Janeiro (117 casos) em 2012-2013. Verificou-se um número maior de internamentos em 2012-2013 (144 vs. 165), não existindo diferenças significativas em termos de sexo (64,6% vs. 58,8% masculino, p=0,30), idade (5,76 vs. 5,54 meses, p=0,72), duração de internamento (5,18 vs. 5,22 dias, p=0,91), gravidade da dificuldade respiratória à admissão (33,3% vs. 42,4%, p=0,10), isolamento de VSR (53,6% vs. 62,7%, p=0,11) ou taxa de complicações (18,1% vs. 18,3%, p=0,96).
Conclusões: Como descrito na literatura, o VSR foi o principal agente etiológico isolado nas crianças internadas por bronquiolite aguda. Observaram-se mais casos no inverno 2012-2013, com um pico de incidência mais precoce, mas sem diferenças significativas nas características dos casos. Constatámos que a menor idade estava associada ao desenvolvimento de insuficiência respiratória e ao isolamento de VSR, enquanto que a sobreinfecção bacteriana foi mais comum em crianças mais velhas.
Palavras-chave: Bronquiolite aguda, VSR, insuficiência respiratória