Serviço de Ginecologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, Lisboa
- Reunião Científica da SPOMMF – Parto por Cesariana
Introdução: A ruptura uterina é uma situação obstétrica rara ocorrendo 1 em 1146 gravidezes (0,07%), extremamente grave tanto para a mãe quanto para o feto, que em geral ocorre e se detecta intraparto. O principal factor de risco é a existência de uma cicatriz uterina, mais comumente uma cicatriz de cesariana. No entanto, existem outros factores de risco como a utilização inadequada de estimulação ocitócica, a grande multiparidade e a duração longa do trabalho de parto. Raramente, ocorre sem que sejam identificáveis quaisquer factores de risco com uma taxa de 1 para 8434 gravidezes (0,012%).
Relato do caso: Mulher de 22 anos de idade, saudável, antecedentes obstétricos: um parto eutócico anterior há 4 anos. Grávida de 41 semanas, internada para indução do trabalho de parto com Misoprostol (apenas 1 dose) sendo transferida para a sala de partos em início de TP onde realizou analgesia epidural. Apresentou um trabalho de parto prolongado e aos 6cm foi transferida para o bloco de partos para rotura artificial de membranas por apresentação alta. Após rotura inicia um período de bradicardia fetal mantida diagnosticando-se prolapso do cordão procedendo-se a cesariana segmentar transversal de emergência. Intra-operatoriamente constata-se ruptura uterina transversal no segmento inferior com feto na cavidade pélvica. Foi realizada histerorrafia com duas suturas, a segunda invaginante. O puerpério decorreu sem intercorrências com alta ao 3º dia pós-parto.
Conclusões: A raridade da ruptura uterina é ainda mais marcada na ausência de cicatriz uterina anterior. Neste caso, a indução do TP e a sua duração prolongada são os factores de risco identificáveis. A manifestação clínica mais comum é a bradicardia fetal que, no entanto, pode estar associada a outras complicações obstétricas, como o prolapso do cordão, concomitantemente presente nesta situação. O principal preditor do desfecho neonatal é a monitorização da actividade cardíaca fetal durante o trabalho de parto, e neste caso clínico permitiu a detecção precoce e um desfecho mais favorável para mãe e para o feto.