- Serviço de Neurologia Pediátrica
- Serviço de Neurorradiologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE, Lisboa
Sessão Clínica da Área de Pediatria Médica do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE, 15/10/2013
Introdução: O desenvolvimento do córtex cerebral é um processo complexo, no qual intervêm diversos mecanismos. A ocorrência de anomalias em um ou mais destes mecanismos é geneticamente determinada na maioria dos casos e condiciona um amplo espectro de malformações cerebrais.
A tubulina é um heterodímero que, sob a forma de microtúbulos, é responsável pela orientação e manutenção axonal e pela migração e diferenciação neuronais. Actualmente estão identificadas diversas mutações nos genes que codificam as isoformasα e β da tubulina. Apesar de muito raras, as doenças da tubulina são entidades com amplo espectro fenotípico, incluindo várias formas de malformação cortical, defeitos nas fibras comissurais, dismorfismo dos gânglios da base e degenerescência axonal motora e sensitiva.
Casos Clínicos:
1) Feminino, 30 meses; atraso de desenvolvimento e estrabismo detectados no 1º ano de vida. Estado de mal epiléptico aos 22 meses; epilepsia focal refractária. Tetraparésiadisquinética.
2) Masculino, 5 anos; convulsões neonatais. Atraso de desenvolvimento e autismo. Posturas distónicas nos membros superiores
3) Masculino, 3 anos. Assimetria ventricular diagnosticada no periodo pré-natal; atraso de desenvolvimento e hemiparesia esquerda.
4) Masculino, 12 anos; anemia das células falciformes diagnosticada aos 9 meses de idade, sem história de eventos cerebrovasculares. Défice cognitivo. Hemiparésia esquerda de predomínio braquial.
As RMN cranianas dos 4 doentes revelaram fusão dos núcleos caudado e lenticular (uni ou bilateral), dificultando a identificação do braço anterior da cápsula interna, bem como corpo caloso dismórfico ou hipoplásico. Nos pacientes 1 e 2 identificaram-se também heteroptopiassubependimárias e polimicrogiria focal. Os pacientes 1 e 4 têm malformações cerebelosas e do tronco cerebral, com expressão variável.
Conclusão: Apesar do largo espectro fenotípico associado às doenças da tubulina, alguns achados imagiológicos permitem orientar a investigação diagnóstica. Os quatro doentes descritos têm apresentações clínicas muito distintas, apesar dos achados neuroradiológicos comuns, sugestivos de mutação nos genes da tubulina. As mutações no gene TUBB3 associam-se tipicamente à fusão dos núcleos caudado e putamen, à dismorfia do corpo caloso e às malformações do cerebelo. Estão também descritas anomalias da giração (polimicrogiria ou agiria-paquigiria) e malformações do cerebelo associadas às mutações deste gene.
Palavras chave: tubulina, malformação cortical