imagem top

2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

CHULC LOGOlogo HDElogo anuario

INTERAÇÕES ENTRE IMUNODEPRESSÃO E TERAPÊUTICA DE MENINGITE CRIPTOCÓCICA

Maria João Brito1 Ana Catarina Guerra1, Flora Candeias1, José Cabral2.

1 Unidade de Infeciologia
2 Unidade de Gastrenterologia, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central – EPE

8º Congresso Mundial de Doenças Infeciosas Pediátricas; África do Sul, Cidade do Cabo, 19 a 22-11-2013

Introdução: A meningite criptocócica é uma infeção oportunista que pode ocorrer em doentes imunodeprimidos após transplante de órgão sólido. As interações farmacológicas entre imunossupressores e antimicrobianos podem obrigar a ajustes de dose problemáticos.

Caso Clínico: Jovem de 17 anos com cefaleias, febre e visão turva com um mês de evolução, internada por meningite. O LCR mostrou 250 células/µL (predomínio linfocitário), glicose 17mg/dL, proteínas 521,7mg/dL, antigénio criptocócico e cultura positiva para Cryptococcus spp. Foi medicada com anfotericina B lipossómica (AFB) e flucitosina. Aos 2 anos realizou transplante hepático por atrésia das vias biliares, havendo referência a episódios de rejeição do enxerto por incumprimento da terapêutica imunossupressora - sirolimus (alvo 11-12 ng/mL), prednisolona 5mg id, micofenolato de mofetilo (MMF) - que alternavam com períodos em que se automedicava com doses excessivas. No dia do internamento tinha níveis supraterapêuticos de sirolimus. Foi suspenso o MMF, alterou-se a dose de sirolimus para alvo de 4-5ng/mL e a prednisolona para 50mg id.
Durante o tratamento verificou-se hipocaliémia grave, com disritmia e disfunção cardíaca subsequentes, e diabetes de difícil controlo. A doente tinha ainda uma cardiomiopatia hipertrófica major congénita e fibrose pulmonar já conhecidas, ambas agravadas pelas doses prévias dos imunossupressores.

Discussão: O manejo da imunossupressão em doentes transplantados com criptococose não está bem estabelecido. Pela atividade anti-criptocócica in vitro dos inibidores da calcineurina, alguns estudos defendem a redução dos corticoides. Neste caso, pelas interações entre o sirolimus e AFB, optou-se por reforçar o corticoide e reduzir o sirolimus. Não houve evidência de rejeição de órgão ou reconstituição imunológica. O tratamento da meningite criptocócica foi concluído com sucesso.

Palavras chave: meningite criptocócica, transplante de órgão sólido, -interações medicamentosas.