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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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INGESTÃO DE CORPOS ESTRANHOS

Laura Oliveira, David Possidónio, Miguel Correia, Pedro Cruz, José Cabral

Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE

Sessão Clínica da Unidade de Gastrenterologia Infantil, Sala de Conferencias HDE, 9 de Julho de 2013

A 29 de Maio de 2013 iniciou-se o trigésimo ano em que se executam endoscopias digestivas altas (EDA) no Hospital de Dona Estefânia (HDE). Até esta data realizaram-se cerca de 11.500 EDA diagnósticas e terapêuticas.
A utilização da fibroendoscopia em detrimento da esofagoscopia rígida para a remoção de corpos estranhos (CE) do tubo digestivo iniciou-se nos anos 70 tendo os primeiros casos em idade adulta sido publicados em 1972.
O tema da reunião será a análise da casuística da Unidade de Gastrenterologia Infantil em relação ao diagnóstico e terapêutica da ingestão de CE, a atitude a tomar perante a suspeita de ingestão, quando e como se deve ou não intervir e as particularidades da ingestão de alguns CE. Será apresentado e discutido um algoritmo de atuação e no final será feito um Quiz.

Foram revistos retrospetivamente os relatórios das EDA realizadas na Unidade de Gastrenterologia Infantil do HDE desde 28 de Maio de 1984 até 28 de Maio de 2013 e foram consultados os dados de alguns processos clínicos.
Foram selecionados os relatórios de 392 endoscopias realizadas por suspeita de ingestão de CE, impacto alimentar ou em que foram encontrados CE em EDA realizada por outro motivo. A seleção foi feita manualmente até 2004 e informaticamente por palavras-chave a partir dessa data.

Em 61 EDA não foram visualizados CE, em 281 foram extraídos CE, em 19 o CE foi visualizado mas não foi extraído, tendo nalguns casos sido deslocado do esófago para o estômago e noutros não extraído por presença de alimentos no estômago ou por impossibilidade técnica (1 tricobezoar extraído cirurgicamente). Houve 31 casos de impacto alimentar.

Os CE mais frequentemente ingeridos foram as moedas, as pilhas e os ganchos de cabelo que foram encontrados, respetivamente, em 157, 18 e 17 EDA. A localização mais frequente do impacto foi o esófago (mais de 60% dos casos). As complicações mais frequentes no local de impacto foram as ulcerações no esófago que em 2 casos evoluíram para estenose, uma das quais com necessidade de dilatação esofágica. Houve 1 caso de fístula e migração de parte do CE para o mediastino e um caso de pneumomediastino, ambos tratados medicamente.

Dos 31 casos de impacto alimentar cerca de metade apresentavam estenose do esófago (após cirurgia de atresia do esófago, cáustica ou péptica).
Em resumo, a ingestão de CE em pediatria é uma situação clínica frequente, sendo na quase totalidade das vezes uma situação acidental, mas suscetível de ocasionar complicações graves. A endoscopia é um meio eficaz e seguro para o seu diagnóstico e terapêutica, mas o “tratamento” mais adequado continua a ser a prevenção.