Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Área de Pediatria Médica, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
I Jornadas da Mulher e da Criança do Hospital Divino Espírito Santo. Ponta Delgada, 16/05/2013.
A má-nutrição energético-proteica (EP) do feto e do pequeno lactente pode ter impacto na saúde futura, inclusive na idade adulta. A má-nutrição inclui a desnutrição e a sobrenutrição.
A resistência á insulina é um mecanismo relevante na etiopatogénese da doença metabólica (diabetes tipo 2, doença cardiovascular e obesidade). Em modelos experimentais, em fetos sujeitos a privação EP foram descritas apoptose células-β, anomalias da secreção da insulina e redução permanente dos transportadores de glicose no músculo. Assim, a privação EP pode originar no feto mecanismos de adaptação com consequentes alterações estruturais e metabólicas permanentes, consideradas determinantes precoces da síndrome metabólica futura. Quer na desnutrição intrauerina, quer na que ocorre no período neonatal, a rápida recuperação do peso nos primeiros meses, resultante de nutrição agressiva, aumenta sobremaneira o risco de doença metabólica tardia.
O desenvolvimento do tecido adiposo inicia-se na vida fetal, com um surto a partir do final do segundo trimestre de gestação. A sobrenutrição materna pode originar alterações permanentes no feto, ficando este programado para a obesidade, por aumento do número de neurónios no hipotálamo expressando os potentes neuropéptidos orexigénicos NPY e a incapacidade do feto em aumentar a expressão de CART (potente neuropéptido anorexigénico) em resposta ao aumento da massa gorda corporal. No actual contexto de “globesidade”, este é um campo de investigação que actualmente motiva muito interesse. No lactente nascido de termo, o excesso de ingestão proteica pela fórmula láctea, durante os primeiros meses de vida, associa-se a efeito adipogénico pela excessiva secreção de IGF-I e insulina, predispondo à obesidade.
Palavras-chave: doença metabólica, má-nutrição fetal, má-nutrição pós-natal, obesidade, programação