1 - Serviço de Imunoalergologia, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E.;
2 - CEDOC, Faculdade de Ciências Médicas, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa;
3 - Departamento de Fisiopatologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa;
4 - Hospital da Luz, Espírito Santo Saúde.
- 33ª Reunião Anual da SPAIC - Fátima, Outubro 2012 (Comunicação Oral).
- Financiamento: Fundação para a Ciência e Tecnologia – ENVIRH Project PTDC/SAU-ESA/100275/2008.
Introdução: A alergia alimentar é uma doença potencialmente grave, com impacto significativo na qualidade de vida e prevalência crescente nas últimas décadas. Na infância e na idade pré-escolar, a alergia alimentar não se encontra ainda devidamente caracterizada em Portugal.
Objectivo: Estudar numa amostra de crianças de Lisboa e Porto, a prevalência de alergia alimentar reportada, em crianças com idade inferior a 6 anos.
Métodos: Na Fase II do Projecto ENVIRH (Environment and Health in children day care centres) foram selecionadas 19 Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) de Lisboa e Porto. A seleção das instituições baseou-se numa amostragem estratificada e através da análise de clusters. Foi aplicado um questionário médico que incluía perguntas sobre alergia alimentar a todas as crianças com idade inferior a 6 anos (n=2287).
Resultados: Foram devolvidos 1226 (54%) questionários. A idade média foi 3,5 ± 1,5 anos, sendo 52,3% do sexo masculino. A prevalência reportada de alguma vez ter tido alergia alimentar foi de 11,2% (IC 95%: 9,7% a 13,2%) e de ter alergia alimentar actual de 6,1% (IC 95%: 4,9% a 7,6%). Entre os doentes que referiram alergia alimentar actual, os alimentos mais frequentemente envolvidos foram o leite (31%), marisco (23%), chocolate (20%), morango (20%) e ovo (16%). A mediana de idades da primeira reacção alérgica alimentar foi de 24 meses (mínimo - máximo: 1 – 60 meses). O número mediano de reacções ao alimento envolvido foi de 2 (mínimo - máximo: 1 – 6 reacções). Relativamente à cronologia da reacção, em 25% dos casos manifestou-se nos 30 minutos seguintes à ingestão. Em termos de apresentação clínica, o envolvimento muco-cutâneo foi a forma de manifestação mais frequente (69%). Foram descritos 10 casos compatíveis com anafilaxia, o que corresponde a 0,8% da totalidade das crianças avaliadas (IC 95%: 0,4% a 1,5%), sendo os principais alimentos envolvidos o leite de vaca, ovo, kiwi e peixe.
Conclusão: Os resultados apontam para um elevado número de casos de alergia alimentar reportada, à semelhança do descrito noutros trabalhos. Um correcto acompanhamento das situações reportadas seria desejável, em particular nas situações de maior gravidade. O presente trabalho procura contribuir para a informação existente no nosso país sobre alergia alimentar e anafilaxia associada a alimentos.
Palavras-chave: alergia alimentar, crianças, epidemiologia.