Área da Mulher e Reprodução - Centro Hospitalar Lisboa Central, Hospital D. Estefânia.
Em 2011, 31,0% dos partos no Serviço Nacional de Saúde foram por cesariana. É uma das taxas mais elevadas da Europa e ultrapassa largamente os 15% preconizados pela OMS em 1985, contudo, não podemos abstrair-nos de que estas diretrizes são orientações Globais e que a realidade demográfica, particularmente nos países ditos desenvolvidos, se alterou ao longo das últimas três décadas.
As indicações para cesariana classificam-se em maternas e fetais. Dentro das primeiras, a patologia materna que contra-indica o parto vaginal, é um subgrupo que nem sempre reúne consenso entre a parturiente, o Obstetra e o Médico Especialista na patologia em questão. Os riscos inerentes a uma cesariana, bem como a possibilidade de um parto vaginal ajudado e com a analgesia epidural, nem sempre são do conhecimento dos especialistas de outras áreas.
Com este estudo retrospetivo de 01.01.2011 a 31.12.2012, baseado nos registos clínicos no processo das utentes, procuramos fazer uma análise da patologia materna que motivou o parto por cesariana, quer electiva ou em trabalho de parto, e averiguar os critérios implicados na decisão da via de parto.
Do universo de 589 cesarianas realizadas, 92 (16%) foram por indicação materna. As indicações mais frequentemente apontadas foram a existência de um útero cicatricial e/ou a patologia ortopédica, neurológica, oftalmológica, psiquiátrica ou cardíaca.
O objectivo deste trabalho é alertar os diferentes profissionais para necessidade de repensar as patologias maternas com indicação para parto por cesariana, estimular a discussão intra e inter-disciplinar e, deste modo, contribuir para a redução da taxa de cesarianas.