1- Centro Hospitalar do Baixo Vouga; Centro Hospitalar de Lisboa Central;
2- Serviço de Oftalmologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central;
3- Hospital Divino Espirito Santo de Ponta Delgada; Centro Hospitalar de Lisboa Central;
4- Serviço de Genética Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central
5- Serviço de Oftalmologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central
- 56º Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, Vilamoura, Dezembro 2013
Introdução
O glaucoma congénito primário (GCP) é uma patologia associada a anomalia do desenvolvimento embrionário das estruturas do ângulo da câmara anterior, podendo manifestar-se desde o nascimento até à infância precoce. A maioria dos casos é esporádica, mas aproximadamente 10 a 40% apresenta um componente hereditário, predominantemente autossómico recessivo. Mutações no gene CYP1B1 são uma causa frequente de GCP em diferentes grupos étnicos, existindo ainda pouca evidência de correlação do genótipo com mutação identificada com o fenótipo da doença.
Objectivos
Determinar a frequência e os tipos de mutações no gene CYP1B1 em crianças com o diagnóstico de GCP e correlacionar a presença de alterações na sequência do gene CYP1B1 com aspectos clínicos da doença.
Material e Métodos
Análise da sequência de DNA do gene CYP1B1 de 21 crianças com GCP, seguidas em consulta de Oftalmologia Pediátrica do Hospital D. Estefânia - Centro Hospitalar Lisboa Central, e estudo da correlação das mutações identificadas com o fenótipo.
Resultados
Foram identificadas mutações no gene CYP1B1 em 6 doentes (28,57%), todos eles heterozigotos compostos. Detectaram-se 7 tipos de mutações deste gene: c.182G>A, c317C>A, c535delG, c1064_1076del, c1159G>A, c1310C>T e c1390dupT. Todos os doentes com mutação identificada desenvolveram GCP bilateral, enquanto que no grupo sem mutação apenas 7 (46.67%) manifestaram a doença bilateralmente. A idade de diagnóstico foi inferior no grupo de doentes com mutação (0 meses vs. 4,5±2,63 meses, p<0,01). Os casos de GCP com mutação no gene CYP1B1 apresentaram tensão ocular pós-operatória mais elevada relativamente aos casos de GCP sem mutação (13,83±5,11mmHg vs. 13,00±0,92mmHg). A idade da primeira intervenção cirúrgica foi menor nas crianças com mutação (3,08±8,51 meses vs. 4,50±2,63 meses) e a necessidade de terapêutica anti-glaucomatosa no pós-operatório também foi superior neste grupo de doentes (0,67±0,89 vs. 0,41±0,73). O número de reintervenções cirúrgicas foi superior no grupo de doentes com mutação (1±0,85 vs. 0,77±1,02). No que diz respeito à acuidade visual apresentada na última consulta de seguimento, ogrupo que obteve melhores resultados foi o de crianças sem mutação identificada (0,43±0,23 vs. 0,28±0,33).
Conclusão
Este estudo demonstra a variedade de mutações existentes do gene CYP1B1 e o seu impacto na manifestação clínica do GCP. No futuro, a análise genética poderá ser uma mais-valia para o diagnóstico, prognóstico e tratamento desta patologia.
Bibliografia:
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2. Li N, Zhou Y, Du L, et al. Overview of Cytochrome P450 1B1 gene mutations in patients with primary congenital glaucoma. Experimental Eye Research 2011; 93:572-579.
3. Della Paolera M, de Vasconcelos JP, Umbelino CC, et al. CYP1B1 gene analysis in primary congenital glaucoma Brazilian patients: novel mutations and association with poor prognosis. J Glaucoma 2010; 19(3):176-82.