Serviço de Imunoalergologia do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
XXXIV Reunião Anual da SPAIC. Vale de Lobo, Outubro de 2013. (Poster)
Introdução: A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é utilizada há milhares de anos e considerada, pelos seus praticantes, eficaz, de baixo custo e com bom perfil de segurança. A imigração trouxe à prática do médico Ocidental novos desafios, que requerem um ultrapassar de barreiras culturais e linguísticas.
Caso clínico: Doente de 15 anos, sexo masculino, natural da China, saudável e sem antecedentes pessoais de doença alérgica, recorreu ao Serviço de Urgência hospitalar por quadro de urticária, angioedema e dor abdominal, 45 minutos após ingestão de 2 fármacos de MTC, por queixas de coriza com 3 dias de evolução. A embalagem de ambos os fármacos encontrava-se em Mandarim Padrão (MP), desconhecendo-se a sua composição. O doente já os tinha tomado anteriormente sem qualquer reação.
À entrada no SU encontrava-se prostrado, com urticária generalizada e angioedema da face, acompanhados de queixas de tontura, náuseas e dor abdominal. Estava hipotenso e bradicárdico, não apresentando hipoxémia, sinais de dificuldade respiratória, vómitos ou diarreia. Foi submetido a terapêutica com adrenalina, clemastina e prednisolona, com boa resposta e normalização dos parâmetros vitais. Ficou em observação, tendo alta 18 horas após internamento, totalmente assintomático e com indicação para evicção dos fármacos suspeitos. Foi prescrita caneta para auto-administração de adrenalina e orientado para consulta urgente de Imunoalergologia (IA). Na história clínica o único dado relevante consistiu na ingestão dos fármacos de MTC. Foram realizados testes cutâneos por picada com os fármacos diluídos em soro fisiológico, que foram positivos para um deles. Excluiu-se reação irritativa testando 5 controlos saudáveis, que reagiram negativamente. Perante um rótulo totalmente em MP foi difícil chegar à composição do fármaco. Com a ajuda do doente percebeu-se que se tratava de Qingkailing, composto por extratos de várias ervas, corno de búfalo asiático, bílis de porco e nácar.
Ficou com indicação para evicção absoluta do fármaco em causa e de compostos semelhantes, mantendo seguimento em consulta de IA.
Conclusão: Estão descritos na literatura vários casos de anafilaxia, alguns dos quais fatais, relacionados com este fármaco de MTC. É um produto de venda livre, composto por um grande número de ingredientes, em quantidades desconhecidas e com um rótulo ilegível, considerado seguro pelos seus consumidores. São necessários estudos controlados que avaliem o potencial alergénico destes produtos de MTC.
Palavras-chave: Anafilaxia, medicina tradicional chinesa