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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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“TEMPO DE APRENDER A PERDER” – UMA REFLEXÃO ACERCA DA ABORDAGEM EM SAÚDE MENTAL INFANTIL A VIVÊNCIAS DE PERDA E LUTO NA PANDEMIA

Francisca Magalhães1, Rita Amaro1, Joana Correia1, Catarina Nascimento1, Carlota Veiga de Macedo2, Juan Sanchez3

1 - Interno de Formação Específica em Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central.
2 - Interno de Formação Específica em Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central.
3 - Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central  

- Publicação em versão integral na REVISTA PSICOLOGIA NA ACTUALIDADE

Introdução: As experiências de perda e do luto em idade pediátrica têm uma indiscutível importância para o desenvolvimento socio-emocional ao longo da vida, contendo particularidades que podem condicionar problemas de saúde mental ao longo da vida. No entanto, a formação e literacia nos diversos níveis de cuidados parece estar aquém da necessária neste tema que se mantém alvo de controvérsia científica. A pandemia trouxe um novo foco de atenção a esta área que, não só se verifica pelo aumento do número de mortes e enlutados neste contexto, como pelos múltiplos fatores de risco para um curso de luto patológico que tem inerente.
Desenvolvimento: A abordagem aos fenómenos de perda e luto na infância e na adolescência representa um enorme desafio clínico. Embora as vivências de perda e luto sejam transversais à experiência humana e, na sua maioria decorram de forma natural e adaptativa, vários aspetos têm sido descritos na sua relação com a psicopatologia na infância e adolescência. A singularidade de diferentes etapas do desenvolvimento infantil em relação à compreensão cognitiva destes conceitos, assim como a dependência afetiva dos adultos para a regulação emocional, contribuem para que a abordagem ao luto nesta faixa etária seja alvo frequente para subdiagnósticos em situações graves ou intervenção inapropriada em processos saudáveis e adaptativos. Para além disto, os processos de luto podem ser extrapolados para outras vivências de perda significativa, não só nos casos de afastamento real por morte como por perdas imaginadas ou afetivas, que se prevê que estejam potencialmente aumentadas no contexto de pandemia.
Reflexão final: O impacto do luto por morte de uma figura de vinculação durante o desenvolvimento infantil tem sido bem descrito e sustentado. No entanto, o luto não se limita à experiência após a morte. É fundamental o suporte de adultos disponíveis e informados para a elaboração destes processos na infância. No campo da saúde mental, a investigação científica acerca de fatores de risco e protetores que permitam otimizar a estratificação de cuidados é fundamental, de forma a diminuir o impacto das comorbilidades associadas.

Palavras Chave: Luto, Pandemia, Perda, Saúde Mental Infantil