1 - Unidade de Neurologia Pediátrica, Hospital Dona Estefânia/ Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (HDE/CHULC)
2 - Serviço de Neurologia, CHULC
3 - Serviço de Pediatria, Departamento da Criança e da Mulher, Hospital Espírito Santo de Évora
4 - Centro de Estudos do Bebé e da Criança, HDE/CHULC
- Reunião nacional - 15.º Congresso da sociedade portuguesa de neuropediatria. Publicação sob a forma de resumo – Sinapse
Introdução: A síndrome de Rett está frequentemente associada a mutações pontuais do gene MECP2 mas o uso de tecnologia NGS tem expandido o espectro de alterações genéticas deste fenótipo comportamental.
Objetivo: Investigar as características clínicas e genéticas de doentes Rett e “Rett-like” na prática clínica real.
Métodos: Estudo observacional, descritivo e retrospetivo dos doentes Rett e “Rett-like” seguidos no serviço de Neurologia de um hospital central.
Resultados: Amostra composta por 28 doentes (83,3% do sexo feminino). A idade média à apresentação e ao diagnóstico genético foi de 13 meses e 6 anos, respetivamente. Quinze doentes apresentam alterações do gene MECP2. Outras alterações genéticas foram encontradas nos genes CDKL5 (n=3), KCNQ2 (n=2), FOXG1 (n=1) e MEF2C (n=1). Seis doentes não têm ainda diagnóstico genético. Em 32,1% dos doentes (considerados Rett-like), os critérios de diagnóstico de 2010 não são preenchidos, principalmente à custa de ausência de regressão (6/9). Quase todos os doentes apresentam epilepsia (92,9%): focal e generalizada (42,9%), focal (32,1%) ou generalizada (10,7%). Em 71,4% a epilepsia é ou foi refratária. A mediana do número de FAE tentados foi 4 (IQR 3-7). Os doentes não- -MECP2 têm idade de apresentação e início de epilepsia mais precoce – 4 (IQR 1-12) vs 14 (IQR 8-35) meses (p=0,011) e 3 (IQR 1-18) vs 33 (IQR 17-69) meses (p=0,008), respetivamente – mas isso não se reflete em pior outcome funcional.
Conclusão: 1. Cerca de metade desta amostra tem alterações em genes que não o MECP2, refletindo o contributo crescente das encefalopatias epiléticas do desenvolvimento para este fenótipo comportamental e justificando a pertinência de um painel genético Rett-like. 2. Um terço dos doentes não preenchem critérios de diagnóstico. 3. A apresentação mais precoce de epilepsia pode sugerir etiologia não-MECP2. 4. Deve ser feito o esforço de encurtar o tempo até ao diagnóstico, 5 anos, especialmente com terapêutica genética no horizonte.