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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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SÍNDROME DE EMBOLIA GORDA COM ARDS APÓS TRAUMA

Beatriz Sousa Nunes1; Carolina Oliveira Gonçalves2; Andreia Abrantes1; Sofia Carneiro1; João Falcão Estrada1

1 - Centro Hospitalar de Lisboa Central | Hospital Dona Estefânia; 2 Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca

- XXIV Reunião Anual Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos – 2022 – Poster

Introdução: O Embolismo Pulmonar Não Trombótico resulta da embolização de diferentes tipos de partículas para a circulação pulmonar, condicionando uma reação inflamatória grave das circulações pulmonar e sistémica. A Síndrome de Embolia Gorda (SEG) é uma consequência rara da Embolia Gorda, caracterizada pela tríade clássica de hipoxemia, disfunção neurológica e exantema petequial.
Relato do caso: Adolescente de 17 anos submetido a cirurgia de encavilhamento da tíbia direita por fratura exposta, após queda de dois metros de altura sem traumatismo crânioencefálico. Cerca de 16 horas depois com dispneia súbita, polipneia, hipoxemia em ar ambiente (SpO2 70%) e murmúrio vesicular simétrico com fervores bibasais. Gasimetria capilar sem hipercapnia ou acidemia. Tomografia computorizada (TC) torácica com opacidades centrilobulares difusas e defeitos de repleção em ramos subsegmentares com oligoemia regional. Eco-doppler dos membros inferiores e ecocardiograma sem alterações. Agravamento progressivo da insuficiência respiratória e início de desorientação temporo-espacial e prostração, com TC cranioencefálica sem alterações. Admitido em UCIP por ARDS grave, com hemorragia pulmonar e necessidade de ventilação mecânica invasiva (VMI) durante cinco dias. Suporte aminérgico por hipotensão, sem hiperlactacidemia. Antibioticoterapia por febre e elevação da PCR, sem isolamento microbiológico. Anemia aguda com queda de 3,5 g/dL de Hb. Cumpriu 31 dias de heparina profilática e metilprednisolona. Em D9 transferido com oxigénio de alto fluxo, sem complicações neurológicas. Discussão: De acordo com a literatura, o doente apresentou os sinais precoces da SEG mais frequentes, dispneia e hipoxemia, com instalação gradual nas primeiras 12-72 horas após o insulto. A embolização de partículas de gordura causa obstrução dos capilares pulmonares, traduzindo-se num padrão imagiológico com opacidades mais difusas, menos sugestivo de tromboembolismo pulmonar. A hemorragia pulmonar resulta do efeito protrombótico e inflamatório das partículas de gordura. A progressão para insuficiência respiratória grave resulta na necessidade de VMI em 50%. O doente apresentou um estado confusional agudo, clínica neurológica mais frequente da SGE, habitualmente reversível. O exantema está presente em apenas 1/3 dos casos. Foram cumpridos os critérios diagnósticos de Gurd. O benefício da corticoterapia e da heparina de baixo peso molecular permanece controverso.
Conclusão: O diagnóstico da SEG é um desafio clínico. A prevenção é essencial, não havendo evidência científica robusta de tratamentos específicos. O prognóstico é bom e a ARDS é a principal causa de morte.