Centro de Simulação e Técnicas, Faculdade de Ciências Médicas/UNL. Hospital de Dona Estefânia, CHLC, EPE
- 3º Congresso Internacional de Qualidade em Saúde e Segurança do Doente 2013, 24/05/2013, Lisboa (Palestra)
Os médicos recém formados e muitas vezes mesmo os mais velhos, podem ter deficiente habilitação para determinados procedimentos e técnicas, decorrentes da falta de treino no ensino pré-graduado. Essas insuficiências podem manter-se nos primeiros anos de prática clínica condicionando a execução de tarefas para as quais nunca houve treino formal, com risco potencial para o doente e enorme estresse para o médico. Mesmo que haja a intenção de ensinar, a oportunidade pode não existir porque a execução e a aprendizagem de técnicas em situações muito graves e a resolução de situações críticas, são difíceis de ensinar nos cenários reais. Por outro lado, mesmo que o treino seja programado no doente, haverá sempre problemas incontornáveis porque, em última instância, o doente ou os pais podem recusar o procedimento realizado por um médico jovem ou, simplesmente, para alguns procedimentos, pode não haver doente. É comum admitir-se que a frequência dos erros diminui com a experiência. Contudo não é a experiência que proporciona maestria nem perícia. Se um erro não é reconhecido e corrigido, será cometido repetidamente, pelo que é de esperar que seja repetido indefinidamente. O que aumenta a maestria é a prática procurada deliberadamente, a reflexão sobre a execução, o reconhecimento e a correcção dos erros, e a repetição sob supervisão, até “fazer bem”.
Para obviar as dificuldades citadas tem-se vindo a apostar no ensino por simulação. Os laboratórios de simulação e treino de técnicas proporcionam um ambiente descomprometido para observação, adequado à reflexão e interiorização de conhecimentos; as técnicas podem ser correctamente demonstradas aos alunos por médicos experientes; os alunos podem treinar procedimentos e técnicas as vezes que forem necessárias e o treino é realizado sob supervisão. A simulação é uma metodologia de aprendizagem translacional. Utiliza conhecimentos e experiência adquiridos com base em técnicas de simulação sem qualquer dano para o doente e aplica-os no doente, melhorando a sua segurança. Os objectivos da aprendizagem por simulação compreendem o treino de competências técnicas, psicomotoras, cognitivas e de comunicação. A aprendizagem por simulação baseia-se em três aspectos fundamentais: 1) Os erros devem ser exaustivamente explorados. Na realidade, é na exploração do erro que é gerada a maior parte da aprendizagem; 2) Deve haver informação de retorno. Ela é fundamental e deve ocorrer no momento adequado. 3) É desejável a repetição de cenários com o objectivo de melhorar a capacidade de execução. Na realidade, uma única sessão de treino não forma especialistas pelo que as aulas devem decorrer em períodos sequenciais, aplicando o curriculum em espiral que vai condicionar uma aquisição somativa de conhecimentos.
Ainda sob o ponto de vista pedagógico, a simulação é um poderoso meio de identificar défices em competências cognitivas, técnicas e de comportamento e, deste modo, constitui-se como uma ferramenta de excelência para melhoria do curriculum
Para além das vantagens da simulação atrás enumeradas, há que referir ainda o papel inovador e investigacional de que se podem rodear os Centros de Simulação. Neles, é possível testar novas tecnologias e procedimentos e, ainda, utilizar pela primeira vez equipamentos novos sem incomodar o doente nem causar malefício.
Por ser uma metodologia de importância fundamental para o ensino e a aprendizagem em medicina, aplicável a todos os graus de diferenciação e estratos profissionais - alunos, internos de medicina, especialistas, seniores, Médicos, enfermeiros, técnicos - deve ser transmitida a noção de que simular não é brincar.
Os Centros de Simulação podem ser núcleos de investigação sobre riscos e benefícios para a segurança do doente. Por outro lado, a simulação pode ser usada para investigar novas tecnologias, a capacidade de execução humana, para gerar ideias e conhecimento, testar situações e propor melhorias de procedimentos, identificar situações de risco e propor meios para melhorar a segurança do doente
Finalmente, nos tempos que correm, não será despropositado falar de custos. Na realidade estes podem ser aceitáveis se forem utilizados modelos de simulação de baixa fidelidade, ou manequins “low cost”, construídos pelos próprios monitores e professores. Os custos podem contudo ser muito elevados se falarmos de simulação com modelos de alta-fidelidade ou de realidade virtual a 3 dimensões. O maior custo contudo estará sempre relacionado com o tempo consumido pelos formandos e pelos formadores.
Em conclusão a aprendizagem por simulação é uma técnica adequada e segura para aprender a prática da teoria sem colocar o doente em risco. O risco para o doente diminui se o clínico tiver treinado o procedimento em laboratório de simulação.
Palavras-passe: Educação médica, ensino pós-graduado, simulação