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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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MORTE CEREBRAL E DADORES DE ÓRGÃOS E TECIDOS EM IDADE PEDIÁTRICA – SERÁ QUE PERDEMOS DADORES? – ESTUDO RETROSPETIVO DE 10 ANOS NUMA UNIDADE CUIDADOS INTENSIVOS PEDIÁTRICOS

Joana Pais de Faria1, Marta Oliveira1, Fernando Rodrigues2, Maria João Xavier2, Paula Pico2, João Estrada1

1 - Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos (UCIP) do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, 2 – Gabinete Coordenador de Colheita e Transplantação (GCCT) do Hospital de São José, Centro Hospital e Universitário Lisboa Central

- XXIV Reunião Anual Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos – 2022 – Comunicação oral

Introdução: a doação de órgãos e tecidos permite transformar vidas. Um dador pode garantir a sobrevivência de até oito pessoas, através dos seus órgãos, e melhorar a qualidade de mais algumas dezenas, pela doação de tecidos. Portugal apresenta uma excelente taxa de transplantação. Ainda assim ocorrem óbitos em lista de espera por um órgão.
Objetivo: analisar os dadores de órgãos e tecidos em idade pediátrica a nível nacional e avaliar as mortes cerebrais, numa unidade de cuidados intensivos pediátricos (UCIP), nos últimos 10 anos, identificando eventuais dadores perdidos.
Metodologia: Estudo retrospetivo descritivo dos dadores pediátricos de órgãos e tecidos e das mortes cerebrais diagnosticadas, entre janeiro de 2011 e dezembro 2021. Analisados dados demográficos e clínicos, incluindo os disponibilizados pela Coordenação Nacional da Transplantação.
Resultados: Nos últimos 10 anos em Portugal houve 121 dadores pediátricos e colhidos 569 órgãos e tecidos. Predomínio do sexo masculino (56%) e mediana de 10 anos de idade. Em período homólogo, na UCIP ocorreram 125 mortes, das quais 20 em morte cerebral (MC). Deste grupo, 4 foram dadores de órgãos e tecidos. No grupo não-dadores (n=16), 14 não cumpriram critérios de doação por: falência multiorgânica (n=11), ausência de diagnóstico (n=2), risco infecioso (n=1); em 1 caso não foram encontrados dados conclusivos. Identificado um potencial dador perdido. Grupo de dadores (n=4): 75% sexo feminino, entre 4 e 15 anos. Em todos, a causa de morte foi anóxia cerebral e colhido um total de 18 órgãos e tecidos. No grupo não-dadores, destaca-se o caso do potencial dador perdido: 5 anos, sexo feminino, saudável, encefalopatia hipóxico-isquémica pós-paragem cardiorrespiratória por epiglotite a Haemophilus Influenza tipo b, com agravamento e sem resposta neurológica. Não foram feitas provas de MC, por hipernatrémia, tendo sido implementada a retirada. Não realizados exames complementares de diagnóstico de MC, traduzindo-se numa perda potencial de rins, fígado e coração.
Conclusão: responder às crianças em lista de espera para transplante é difícil, pelas suas características particulares e porque em pediatria são poucos os dadores. Com intensivistas pediátricos mais familiarizadas com o processo de doação, identificando potenciais dadores e otimizando-os, minimiza-se o número de órgãos potencialmente perdidos. Podemos dar sentido à morte inesperada, impossível de evitar, permitindo ganhos em anos-vida para outras crianças.

Palavras Chave: pediatria, morte cerebral, doação de órgãos e tecidos, transplante