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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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HIPERTROFIA GENGIVAL COMO EFEITO SECUNDÁRIO DA AMLODIPINA

Maria Soto-Maior Costa1, Madalena Almeida Borges1, Telma Francisco2, Margarida Abranches2

1 - Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Lisboa
2 - Unidade de Nefrologia Pediátrica, Área de Pediatria, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Lisboa

- Reunião da Sociedade Portuguesa de Nefrologia Pediátrica 2022, 13/10/2022, Coimbra, poster

Introdução: Os bloqueadores de canais de cálcio são fármacos amplamente utilizados no tratamento da hipertensão arterial (HTA) em crianças. Entre os seus efeitos secundários, está bem descrita a hipertrofia gengival, por um mecanismo ainda não totalmente estabelecido, sendo uma das principais classes farmacológicas associadas a esta iatrogenia. Embora ocorra mais frequentemente com a nifedipina, está também bem estabelecida a sua associação com o uso de amlodipina.
Relato do Caso: Criança de 7 anos, sexo feminino, com vasculopatia complexa (síndrome da aorta média), caracterizada por artérias carótidas displásicas, hipoplasia vertebrobasilar, estenose bilateral das artérias renais, estenose da aorta, estenose/displasia da artéria mesentérica superior e tronco celíaco. Realizou mendelioma, sem identificação de causa genética. Aos 2 anos teve a primeira manifestação da doença, com AVC isquémico lacunar da protuberância, concomitante com crise hipertensiva, mantendo desde então HTA de difícil controlo medicada com 3 fármacos (propanolol, amlodipina e clonidina). Sob amlodipina desde o diagnóstico, 7.5mg (0.5mg/kg/dia), com necessidade de aumentar aos 4 anos para 10mg (0.57mg/kg/dia). Seis meses após aumento da dose inicia hipertrofia gengival de agravamento progressivo, exuberante, com interferência na mastigação e desenvolvimento dentário. Pela patologia de base com HTA muito resistente não foi possível suspender amlodipina, tendo-se optado pela redução da dose para 5mg (0.45mg/kg/dia), verificando-se apenas ligeira melhoria. Mantém seguimento regular na Estomatologia, aguardando atualmente a realização de recorte gengival.
Discussão: A hipertrofia gengival associada a amlodipina tem uma prevalência estimada de 1.7-3.3%, sendo mais comum no sexo masculino. Surge mais frequentemente associada a dose de 10mg/dia, tal como sucedeu com a nossa doente, que mesmo com redução da dose teve apenas uma melhoria frustre do quadro. Com este caso pretendemos alertar para este possível efeito adverso, uma vez que a hipertrofia gengival pode resultar em hemorragia, infeção local, alteração do crescimento dos dentes, limitação funcional (mastigação, fala) e compromisso da higiene oral, além das inegáveis considerações estéticas. A abordagem passa por substituir a amlodipina por outro fármaco sempre que possível e medidas estomatológicas, tais como higiene oral e de controlo de placa bacteriana, até à intervenção cirúrgica nos casos refratários.

Palavras Chave: amlodipina, hipertensão arterial, hipertrofia gengival