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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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HIDROCEFALIA COM ESTENOSE DO AQUEDUTO DE SYLVIUS LIGADA AO X: DESCRIÇÃO DE DOIS CASOS CLÍNICOS COM APRESENTAÇÃO EM PRÉ-NATAL

Susana Lemos Ferreira1, Ana Teresa Martins2, Leonor Ferreira2, Jader Cruz2, Álvaro Cohen2, Inês Carvalho1,2

1 - Serviço de Genética Médica, Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, Lisboa, Portugal
2 - Centro de Responsabilidade Integrada de Medicina e Cirurgia Fetal, Maternidade Alfredo da Costa, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa, Portugal

- X Reunião Neurogenética - Doenças neurogénicas com manifestação pré-natal, reunião institucional (da área da Genética Médica e da Neurologia Pediátrica), sob forma de comunicação oral

Introdução: Variantes patogénicas no gene L1CAM são responsáveis pela síndrome L1, com amplo espectro fenotípico que inclui a hidrocefalia com estenose do aqueduto de Sylvius ligada ao X (HSAS). A HSAS pode apresentar-se no período pré-natal com hidrocefalia grave e polegares adutos, afetando principalmente indivíduos do sexo masculino.
Caso clínico I: Grávida, 31 anos, IO: 1001, sem antecedentes relevantes. Referenciada às 23 semanas e 1 dia por malformação do SNC. Na ecografia morfológica foi identificada ventriculomegalia ligeira (11mm) e mãos fechadas com sobreposição dos dedos. Na RM fetal apresentava agenésia completa das comissuras telencefálicas, alargamento da fenda interhemisférica e alteração da protuberância. Pelo mau prognóstico, o casal optou pela interrupção médica da gravidez (IMG). Realizou QF-PCR e microarray sem alterações. O neuroexoma identificou uma variante provavelmente patogénica em hemizigotia no gene L1CAM (NM_001278116.1):c.29del (p.(Pro10Leufs*22)), de novo, confirmando HSAS.
Caso clínico II: Grávida, 29 anos, IO:0000, sem antecedentes relevantes. Referenciada às 23 semanas e 2 dias por ventriculomegalia moderada. A neurosonografia às 30 semanas mostrou agravamento da ventriculomegalia (16mm) com reforço da parede ventricular, alterações da sulcação mais evidentes na insula e sulco parieto-occipital, vérmis e corpo caloso hipoplásico. Achados confirmados na RM fetal, sugerindo provável malformação do desenvolvimento cortical. Pelo mau prognóstico, o casal optou pela IMG. Realizou QF-PCR e microarray sem alterações. O estudo molecular do gene L1CAM identificou uma variante patogénica em hemizigotia no gene L1CAM (NM_001278116.1):c.1108G>A (p.(Gly370Arg)), confirmando HSAS. O estudo de segregação revelou trata-se de uma variante herdada com elevado risco de recorrência. Numa gravidez subsequente foi possível oferecer DPN dirigido.
Conclusão: A caracterização fenotípica dos casos de ventriculomegalia fetal é essencial para dirigir a investigação etiológica. O gene L1CAM é a principal causa genética de hidrocefalia, sendo o estudo molecular recomendado na presença de hidrocefalia em indivíduos do sexo masculino, permitindo o aconselhamento genético apropriado à família.

Palavras Chave: hidrocefalia, hidrocefalia com estenose do aqueduto de Sylvius ligada ao X, ventriculomegalia fetal, L1CAM