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2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

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DIPLOPIA UM DILEMA SARS-COV-2

Cláudia Marques-Matos1, Rita Lopes Silva1, Eduardo Silva2, José Pedro Vieira1, Maria João Brito3

1 - Unidade de Neurologia Pediátrica, Serviço de Pediatria, Hospital Dona Estefânia/Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, HDE/CHULC
2 - Serviço de Oftalmologia, CHULC
3 - Unidade de Doenças Infeciosas Pediátricas, Serviço de Pediatria, HDE/CHULC

- Reunião nacional – 15º Congresso Sociedade Portuguesa de Neuropediatria. Publicação sob a forma de resumo – Sinapse.

Introdução: O espectro de manifestações neurológicas da COVID-19 está em expansão e o diagnóstico das suas formas raras é um desafio. A diplopia e a oftalmoplegia têm sido raramente descritas no contexto da infeção SARS-CoV-2.
Caso Clínico: Menina de 9 anos que se apresenta, um mês após uma infeção por SARS-CoV-2, com um quadro de febre com 3 dias de evolução, vómitos e injeção conjuntival bilateral. Nove dias depois desenvolve diplopia na dextroversão. Nesse momento já sem febre, olho vermelho, cefaleia, dor com os movimentos oculares ou défice da acuidade visual. Exame neurológico normal exceto a parésia da abdução do olho direito. TC e RM cerebral sem alterações. A avaliação oftalmológica e o OCT revelaram papiledema bilateral, na ausência de défice de acuidade visual ou sinais inflamatórios indiretos. A pressão de abertura da punção lombar foi de 22 cmH2O e não se detetou pleocitose, hiperproteinorráquia ou síntese intra-tecal de imunoglobulinas. O estudo analítico revelou uma velocidade de sedimentação de 98 mm/h, sem outros marcadores inflamatórios sistémicos. A PCR de SARS-CoV-2 na zaragatoa da naso e orofaringe foi negativa mas as serologias no sangue e LCR foram positivas. Foram excluídas outras etiologias infeciosas. Decidiu-se instituir 7 dias de prednisolona oral 1 mg/kg/d. A criança recuperou completamente em 1 mês.
Discussão: O caso apresentado preenche os critérios da Academia Americana de Neurologia para síndrome de pseudotumor cerebri (PTCS) provável e este diagnóstico explica o papiledema transitório sem perda de acuidade visual e a parésia do VI nervo craniano direito. Apesar da ausência de cefaleia ser inesperada neste síndrome, o diagnóstico alternativo de nevrite ótica bilateral sem défice de acuidade visual parece menos provável. A recuperação completa com corticoterapia não acresce ao diagnóstico, considerando que a maioria dos PTCS secundários resolvem com a resolução da causa primária ou após punção lombar.