Serviço de Imunoalergologia do Hospital Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE
XXXIV Reunião Anual da SPAIC. Vale de Lobo, Outubro de 2013. (Poster)
Introdução: O paracetamol e os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são os fármacos mais frequentemente utilizados para analgesia, podendo ser adquiridos sem receita médica. As reações de hipersensibilidade a estes fármacos são, na maioria dos casos, não IgE mediadas.
Caso Clínico: Mulher de 48 anos, saudável e sem antecedentes pessoais de atopia, referenciada à consulta de Imunoalergologia por história de urticária generalizada com angioedema da face e extremidades, imediatamente após toma de analgésicos para alívio de dismenorreia. Não apresentava sintomas respiratórios, gastrointestinais ou cardiovasculares associados. Teve vários episódios reprodutíveis, dos 14 aos 20 anos de idade, pelo que iniciou, de forma voluntária, evicção de qualquer analgésico/antipirético, incluindo AINEs e paracetamol.
Dado os 28 anos passados entre o último episódio e a consulta, a doente não se recordava do nome de todos os fármacos envolvidos. No entanto, o paracetamol era recorrente na sua história, pelo que se iniciou investigação nesse sentido.
Realizou testes cutâneos por picada com solução de paracetamol injetável (10 mg/mL) que foram negativos. Os testes intradérmicos com paracetamol na concentração de 1/100 foram positivos, com aparecimento de 2 pápulas satélite, com 4 e 5 mm de diâmetro médio, cerca de 20 minutos após a sua realização. A leitura tardia foi negativa. Não foi realizada prova de provocação oral com paracetamol por recusa da doente. Como alternativa terapêutica, foi realizada prova de provocação oral aberta com ibuprofeno que foi negativa.
Ficou com indicação para manter evicção de paracetamol, sem intercorrência de episódios semelhantes. Utiliza ibuprofeno como analgésico/antipirético, com tolerância.
Conclusões: Este caso clínico é invulgar dado que são raras as descrições de hipersensibilidade IgE mediada ao paracetamol, com reação imediata nos testes cutâneos. Estes foram efetuados 28 anos após a última reação, pelo que a sua positividade torna o caso mais incomum. A não referenciação desta doente a uma consulta de Imunoalergologia privou-a, durante quase três décadas, de qualquer tipo de analgesia e colocou-a em risco de exposição acidental ao fármaco. Destaca-se o facto de a doente tolerar AINEs, tratando-se de uma hipersensibilidade exclusiva ao paracetamol.
Palavras-chave: hipersensibilidade AINEs, paracetamol