imagem top

2023

ANUÁRIO DO HOSPITAL
DONA ESTEFÂNIA

CHULC LOGOlogo HDElogo anuario

AMIGDALECTOMIA EM DOENTE DREPANOCÍTICO: UMA CASCATA DE COMPLICAÇÕES

Patrícia Dias Santos1; Inês Salva1; Marta Oliveira1; Paula Kjöllerström1; João Estrada1

1 - Centro Hospitalar de Lisboa Central | Hospital Dona Estefânia

- XXIV Reunião Anual Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos – 2022 – Poster

Introdução:
A Anemia de células falciformes predispõe a complicações severas cujo tratamento pode requerer a admissão em cuidados intensivos, como é o caso da sépsis, síndroma torácico agudo ou acidente vascular cerebral. Descreve-se um caso atípico de múltiplas complicações graves concomitantes num doente drepanocítico sujeito a amigdalectomia. Adolescente, 16 anos, com anemia de células 29 falciformes (fenótipo SS, com HbFetal elevada 11,8% e Hb basal 8,5g/dL), sem internamentos prévios que, por síndroma de apneia obstrutiva do sono, foi sujeito a amigdalectomia 7 dias prévios ao início de quadro de dor dorso-lombar, que motivou internamento para controlo álgico. No primeiro dia de admissão apresentou febre e hipoxemia, que justificaram início de cefotaxime e clindamicina. Posteriormente, depressão do estado de consciência e anemia de novo (descida de 5 g/dL para 3.9 g/dL), tendo iniciado hematemeses. Objetivada hemorragia locas amigdalinas com subida dos parâmetros inflamatórios (aumento PCR de 92,4mg/L para 230mg/L e PCT de 0.6u/L para 12.9u/L) e prolongamento do TP (24,8seg), que evoluiu para choque descompensado. Por persistência de hemorragia fez revisão hemostase cirúrgica, tendo necessitado de transfusão maciça (2CE, 1CP, 1PFC) e tamponamento do cavum. Necessidade de ventilação mecânica invasiva com insuficiência respiratória tipo 2, com hipoxemia (necessidade de FiO2 até 70%) e hipercapnia com acidose respiratória. Manteve febre e elevação dos parâmetros inflamatórios (aumento de PCR até 277mg/L), motivo pelo qual foi adicionada vancomicina à antibioterapia prévia. Manteve coagulopatia (TP 19,7seg, fibrinogénio 1.8g/L) e trombocitopenia (40.000/uL), tendo realizado transfusão com 2 PFC, fibrinogénio e 2 CE. Manteve ventilação mecânica invasiva até D5 de internamento. Em D8 de internamento, apresentou quadro de alucinações visuais e discurso incoerente, tendo realizado RM-CE que revelou lesão sequelar gânglio-capsular esquerda, de provável etiologia vascular. Num doente com patologia crónica, instabilidade hemodinâmica, hemorragia ativa ameaçadora da vida e coagulação vascular disseminada com necessidade de internamento em cuidados intensivos e ventilação invasiva, foi realizado protocolo de transfusão maciça de hemoderivados e antibioterapia de largo espectro. Este caso realça também a dificuldade no reconhecimento de eventos neurológicos agudos em doentes sedados e ventilados.

Palavras Chave: Palavras-chave: Choque hemorrágico, Choque Séptico, Anemia de células falciformes